Abstract
Existem perto de 140 monumentos portugueses que ainda conservam pintura mural realizada entre os finais do século XV e os meados do século XVI. Por vicissitudes históricas diversas, a distribuição destes monumentos pelo território nacional é muito desigual, verificando-se uma concentração em templos rurais situados sobretudo no território de Entre-Douro-e- -Minho (c. 30%), em Trás-os-Montes (c. 25%) e na Beira Interior (c. 20%).A análise da iconografia destas pinturas permite tirar várias conclusões a respeito das principais devoções da época. Verifica-se que São Sebastião era o santo mais representado, seguido por Santo António (de Pádua), Santa Catarina, São Pedro, São Miguel, São João Baptista e São Tiago, ao mesmo tempo que apenas a Anunciação e o Calvário têm uma representatividade equiparável à dos santos mencionados. Também é possível concluir que a preferência pelos santos referidos não estava dependente da invocação dos templos. Conclui-se, igualmente, que existe uma nítida diferenciação entre as imagens sacras representadas na zona dos templos cujo cuidado pertencia aos fregueses, a nave, e a zona sob a responsabilidade dos padroeiros, a cabeceira. Nesta comunicação pretende-se explicar quais os motivos que justificam a preeminência da representação de determinadas figuras do hagiológio cristão durante o período em causa, bem como a ausência de outras cuja presença seria expectável. Pretende-se explicar também as razões que ditam a diferenciação entre a iconografia das cabeceiras e a iconografia das paredes da nave. A análise conjugada destes dados permite trazer alguma luz sobre os motivos que justificam as principais devoções dos portugueses da época, sobretudo os que viviam em ambientes rurais.