A Instauração da Filosofia e da Ciência por Tales de Mileto

Revista Portuguesa de Filosofia 48 (1):99 - 124 (1992)
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Abstract

Antes da Filosofia, a Sabedoria era a que continha o "saber" humano haurido da experiéncia vivida. E, portanto, Sabedoria expressava mais ou menos o que hoje concebemos como Cultura. Ora, a Filosofia construiu-se mediante a operacionalização de uma passagem: do contexto da Cultura (a qual se expressava mediante um sistema simbolico próprio do mito, da religião e da literatura heróica) para o contexto da Ciencia (a qual se expressou, na dependència do antigo, através de um novo sistema simbólico conceitual, pelo exercicio de uma determinada competência). Do contexto de uma Sabedoria experimental, organizada no tempo da experiência da vida, construiu-se uma habilidade de tipo próprio: a de elaborar considerações sábias ou a de formular máximas mediante observações precisas. Tales representa, nos primórdios da descoberta do pensamento racional, orientando-a, não tanto para o governo da vida ou do viver, mas para o governo da Natureza, pela observação dos seus fenómenos. É sobre a instauração desta nova atitude (inferida do exercicio prático e não de discurso teórico feito por Tales) que se detém este artigo. Ele versa, num primeiro momento, sobre a sua figura de Sábio; sobre a sua necessidade de viajar, como forma de estudo e de instrução; sobre o seu envolvimento com a Geometria (uma ciência de feição especulativa, mas de carácter empírico); enfim, sobre a sua habilidade teórica e prática (mediante relatos de Platão e de Aristóteles). Num segundo momento, e finalmente, aborda a sua explicação racional da "physis". /// Avant la Philosophie, la sagesse détenait le "savoir" humain extrait de l'expérience vécue. La sagesse s'approchait done de ce que nous comprenons aujourd'hui comme culture. La Philosophic est le fruit du passage du contexte de la Culture (celle qui s'exprimait par un système symbolique propre au mythe, à la religion, à la littérature héroïque) à celui de la Science (qui s'est exprimée, pour la dépendance du système ancien, par le biais d'un nouveau système symbolique conceptuel moyennant l'exercice d'une compétence détérminée). C'est à partir de la Sagesse experimentale, organisée pendant l'expérience de la vie, que s'est construite une capacité propre: celle qui consiste à élaborer des considérations sages ou à formuler des maximes moyennant des observations précises. Aux origines de la découverte de la pensée rationnelle, Thalès fut un jalon dans ce mouvement de la sagesse: il a marqué le début d'une nouvelle activité du sage, par l'exercice spécifique de la recherche ou de l'élévation rationnelle, en l'orientant, non seulement pour la conduite de la vic (ou du vivre), mais encore pour la connaissance de la nature, grace à l'observation de ses phénomenes. Le thème de cet article aborde l'instauration de cette nouvelle attitude (induite de l'exercice pratique et non du discours théorique fait par Thalès). II traite, en un premier moment, de Thalès comme Savant; de ses voyages comme forme d'etude et d'instruction, de son introduction à la Géométrie (une science de nature spéculative mais de caractère empirique); enfin, de son habileté théorique et pratique (en utilisant des récits de Platon et d'Aristote). En un second moment, il traite de son explication rationnelle de la "Physis". /// Before Philosophy, Wisdom included much of human "knowledge" learned through the experience of life. Wisdom was thus approximately what we nowadays call Culture. Philosophy was built up by way of a passage: from the context of Culture (wheh espresses itself by means of a symbolic system peculiar to myth, religion and epic literature) to the context of Science (which although still dependent from the ancient tradition expresses itself through a new conceptual symbolic system by means of the exercise of a specific competence). Out of the context of an experimental Wisdom, a specific skill developed organized on the basis of experience of life: to elaborate wise considerations, or to formulate propositions based upon precise observations. In the early days of the discovery of rational thought, Thales represents a landmark in his sapiential movement: the inauguration of a new activity of Scholars, through the specific exercise either of research or of rational speculation, directed mainly not to the rule of life, but to the rule of Nature through the observations of its phenomena. This paper deals with the instauration of this new activity (inferred from Thales 1 practice and not from his theoretical discourse). First, Thales personality of a Scholar is analysed: his need to travel as a way of study and instruction; his interest for Geometry (a science of speculative kind, but of empirical character); his theoretical and practical skill (according to the reports of both Plato and Aristotle). In a second part, Thales' rational explanation of "physis" is examined.

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