Da concomitância entre direitos humanos e direito: sobre a base fundacional da democracia como um sistema público de direito com caráter antifascista

Autores

DOI:

https://doi.org/10.31977/grirfi.v21i1.2165

Palavras-chave:

Democracia Pluralista e Universalista: Sistema Público de Direito; Direito; Política; Moral; Fascismo.

Resumo

O texto procura esclarecer o sentido do fascismo contemporâneo, em particular a partir do exemplo do bolsonarismo, definindo-o como uma perspectiva antissistêmica, anti-institucional, antijurídica e infralegal com caráter personalista, vocacionado, voluntarista, espontaneísta e militante que começa dentro do judiciário e sob a forma de subversão da relação direito, política e moral e que, por meio da politização e da partidarização do direito, se ramifica ao sistema político, servindo de instrumento para a guerra político-partidária fratricida, dali se vinculando à sociedade civil em termos de produção de uma massa-milícia digital-social de aclamação com caráter e orientação antissistêmicos. Nesse diapasão, o fascismo possui dois núcleos constitutivos e dinamizadores: por um lado, subverte a correlação entre direitos humanos e direito, deslegitimando e, na verdade, destruindo a primazia ontogenética, a separação, a diferenciação, a autorreferencialidade e a sobreposição do direito em relação à política e à moral, bem como a subsidiariedade destas em relação àquele; por outro, consiste na desconstrução desde dentro do judiciário e do sistema político da perspectiva altamente institucionalista, legalista, tecnicista, formalista e despersonalizada que é própria a eles, eliminando a centralidade do judiciário e, com isso, deslegitimando seu papel regulador do sistema político e da dialética social, normalizando a regressão totalizante ocasionada pela colonização político-moral do direito democrático. Ao reconstruirmos a base metanormativa e geracional da democracia pluralista e universalista como um sistema público de direito, isto é, a co-originariedade de universalidade dos direitos humanos, pluralismo e direito, a condição ontogenética primigênia, independente, autossubsistente e sobreposta do direito em relação à política e à moral, bem como a subsidiariedade destas em relação àqueles, apontaremos para a retomada dessa perspectiva sistêmica, sistemática, processual, mediada, instancial, progressiva e publicizada do sistema público de direito, no caso na interrelação, na separação e na sobreposição de judiciário e sistema político, demarcada por um forte ideal de institucionalidade, legalidade, tecnicalidade, formalismo e despersonalização metodológico-procedimental-axiológicos, o qual erradica a politização e a partidarização do direito e, ao devolver a integridade plena ao direito/judiciário, confina o sistema político e a sociedade civil democráticos aos seus verdadeiros limites, que também são suas bases estruturantes: os direitos humanos, o devido processo legal e o sistema público de direito, com a necessidade de tradução plena da política e da moral ao direito, delimitando a democracia pluralista e universalista como um sistema público de direito orientado à produção da universalidade na/como/pela legalidade.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Leno Francisco Danner, Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

Doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Porto Alegre – RS, Brasil. Professor da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), Porto Velho – RO, Brasil.

Fernando Danner, Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

Doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Porto Alegre – RS, Brasil. Professor da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), Porto Velho – RO, Brasil.

Referências

CATROGA, Fernando. Entre deuses e césares: secularização, laicidade e religião civil – uma perspectiva histó-rica. Coimbra: Edições Almedina, 2006.

CÉSAIRE, Aimé. Discurso sobre o colonialismo. Lisboa: Livraria Sá da Consta Editora, 1978.

FANON, Frantz. Os condenados da Terra. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1968.

FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Salvador: Editora da UFBA, 2008.

FERNANDES, Florestan. A integração do negro na sociedade de classes. São Paulo: Global, 2008.

FORST, Rainer. Contextos da justiça: filosofia política para além de liberalismo e comunitarismo. São Paulo: Boitempo, 2010.

HABERMAS, Jürgen. Teoria do agir comunicativo (Vo. I): racionalidade da ação e racionalização social. São Paulo: Martins Fontes, 2012a.

HABERMAS, Jürgen. Teoria do agir comunicativo (Vol. II): sobre a crítica da razão funcionalista. São Paulo: Martins Fontes, 2012b.

HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: entre facticidade e validade (Vol. I). Rio de Janeiro: Tempo Brasi-leiro, 2003a.

HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: entre facticidade e validade (Vol. II). Rio de Janeiro: Tempo Bra-sileiro, 2003b.

HABERMAS, Jürgen. A inclusão do outro: estudos de teoria política. São Paulo: Loyola, 2002a.

HABERMAS, Jürgen. O discurso filosófico da modernidade: doze lições. São Paulo: Martins Fontes, 2002b.

HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento: a gramática moral dos conflitos sociais. São Paulo: Editora 34, 2003.

HONNETH, Axel. Sofrimento de indeterminação: uma reatualização da “filosofia do direito” de Hegel. São Paulo: Editora Esfera Pública, 2007a.

HONNETH, Axel. Reificación: un estudio en la teoría del reconocimiento. Buenos Aires: Katz, 2007b.

HUNT, Lynn. A invenção dos direitos humanos: uma história. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

KRENAK, Ailton. Encontros. Organização de Sergio Cohn. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2015.

MBEMBE, Achille. Crítica da razão negra. Lisboa: Antígona, 2014a.

MBEMBE, Achille. Sair da grande noite: ensaio sobre a África descolonizada. Lisboa, Edições Mulemba, 2014b.

MEMMI, Albert. Retrato do colonizado precedido pelo retrato do colonizador. Rio de Janeiro: Civilização Brasilei-ra, 1967.

MUNDURUKU, Daniel. Daniel Munduruku. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2018 (Coleção Tembetá).

NASCIMENTO, Abdias. O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado. São Paulo: Pers-pectivas, 2016.

RANCIÈRE, Jacques. O ódio à democracia. São Paulo: Boitempo, 2014.

RAWLS, John. Uma teoria da justiça. São Paulo: Martins Fontes, 2000a.

RAWLS, John. O liberalismo político. São Paulo: Ática, 2000b.

RAWLS, John. Justiça e democracia. São Paulo: Martins Fontes, 2000c.

RAWLS, John. Justiça e democracia. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

SOUZA, Jessé. A construção social da subcidadania: para uma sociologia política da modernidade periférica. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2012.

WEBER, Max. Ensayos sobre sociología de la religión (T. I). Madrid: Taurus, 1984.

WERÁ, Kaká. Kaká Werá. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2017 (Coleção Tembetá).

Downloads

Publicado

2021-02-01

Como Citar

DANNER, Leno Francisco; DANNER, Fernando. Da concomitância entre direitos humanos e direito: sobre a base fundacional da democracia como um sistema público de direito com caráter antifascista. Griot : Revista de Filosofia, [S. l.], v. 21, n. 1, p. 379–409, 2021. DOI: 10.31977/grirfi.v21i1.2165. Disponível em: https://periodicos.ufrb.edu.br/index.php/griot/article/view/2165. Acesso em: 24 abr. 2024.

Edição

Seção

Artigos