Considerações sobre a impossibilidade de definir o homem a partir de Descartes

Autores

DOI:

https://doi.org/10.14393/REVEDFIL.v34n72a2020-59282

Palavras-chave:

Descartes, Homem, Ideia, Conceito, Definição

Resumo

Considerações sobre a impossibilidade de definir o homem a partir de Descartes

Procuramos, neste texto, pensar o significado da rejeição da tradicional definição de homem efetuada por Descartes, quando tenta entender o que somos. Essa rejeição é resultado de um novo método de filosofar, que poderíamos designar como via das ideias – aquela que parte das forças do próprio espírito para examinar tudo o que ocorre nele e em qualquer outra coisa, evitando usar de pressuposições. A fim de marcar essa diferença de perspectiva e a reiterada disposição do filósofo francês em elaborá-la, apontamos a limitação da noção de conceito – seja aquela da tradição aristotélica-escolástica, seja a pós-cartesiana, fortemente marcada pela representação científica – para dar conta da problemática do fenômeno humano. Nesse sentido, insistimos na riqueza e amplitude da noção de ideia – elaborada e reelaborada ao longo dos anos pelo filósofo – para enfrentar esse complexo fenômeno. Uma vez que o homem não é uma substância, a manifestação dos seus aspectos é sempre adjetiva, podendo qualificá-lo sem, contudo, propiciar a sua compreensão. Essa dificuldade de apreensão exige, portanto, que o estudo da ideia de homem explore até o limite a própria racionalidade humana

Palavras-chave: Descartes; Homem; Ideia; Conceito; Definição.

Considerations on the impossibility of defining man based on Descartes

 Abstract: The aim of this text is to reflect on the meaning of the rejection of the traditional definition of man performed by Descartes when he attempts to understand what we are. This rejection is the result of a new method of philosophizing, which we may designate as the way of ideas—that which emerges from the forces of one’s own spirit to examine all that occurs within it and in any other thing, avoiding the use of presuppositions. To highlight this difference of perspective and the reiterated willingness of this French philosopher in elaborating it, we indicate the limitation of the notion of concept—whether that of the Aristotelian-Scholastic tradition or the post-Cartesian tradition, strongly characterized by scientific representation—to deal with the problematic of the phenomenon of the human. In this respect, we stress the richness and amplitude of the notion of idea, elaborated and re-elaborated over years by this philosopher, to address this complex phenomenon. Since man is not a substance, the manifestation of his aspects is always adjectival, allowing qualification without, however, providing comprehension. This difficulty of perception therefore requires that the study of the idea of man explore human rationality itself to the greatest extent.

Keywords: Descartes; Man; Idea; Concept; Definition.

Considérations sur l'impossibilité de définir l'homme à partir de Descartes 

 Resumé:  On se propose, dans ce texte, de réfléchir sur le sens du rejet de la définition traditionnelle de l'homme faite par Descartes, lorsqu'il tente de comprendre ce que nous sommes.  Ce rejet est le résultat d'une nouvelle méthode de philosopher, que nous pourrions désigner comme la voie des idées - celle qui part des forces de l'esprit lui-même pour examiner tout ce qui se passe en lui et en toute autre chose, en évitant d'utiliser des présupposés. Pour marquer cette différence de perspective et la disposition réitérée du philosophe français dans son élaboration, nous soulignons la limitation de la notion de concept - soit celle de la tradition aristotélicienne-scolastique, soit celle post-cartésienne, fortement marquée par la représentation scientifique - pour rendre compte de la problématique du phénomène humain. En ce sens, nous insistons sur la richesse et l'amplitude de la notion d'idée - élaborée et retravaillée au fil des années par Descartes - pour faire face à ce phénomène complexe. Une fois l'homme n'est plus une substance, la manifestation de ses aspects reste toujours adjective, pouvant le qualifier sans toutefois favoriser sa compréhension. Cette difficulté d'appréhension exige donc que l'étude de l'idée de l'homme explore jusqu'à la limite la rationalité humaine elle-même.

Mots-clés: Descartes; Homme; Idée; Concept; Définition.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Alexandre Guimarães Tadeu de Soares, Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

* Doutor em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Professor Associado do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). E-mail: alexandregts@gmail.com  ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4961-2070

Referências

AQUINO, Tomás de. O ente e a essência. Tradução de Carlos Arthur do Nascimento. Petrópolis, Vozes, 1995.

ARISTÓTELES. Metafísica, A. Tradução de José Cavalcante de Souza. Campinas, UNICAMP, mimeografado.

ARMOGATHE, Jean-Robert. Descartes em seu século. in: Educação e Filosofia. Uberlândia, v. 25, N. Especial, 2011. https://doi.org/10.14393/REVEDFIL.issn.0102-6801.v25nEspeciala2011-01

BEYSSADE, Jean-Marie. Études sur Descartes. Paris, Seuil, 2001.

DE BUZON, F.; KAMBOUCHNER, D. Le vocabulaire de Descartes. Paris, Ellipses, 2002.

DESCARTES, René. Oeuvres de Descartes. Edição de C. Adam et P. Tannery, 11 volumes, Paris, Vrin, 1996.

DESCARTES, René. Tutte le lettere: 1619-1650; Opere: 1637-1649; Opere postume: 1650-2009. Edição dirigida por G. Belgioioso. Bompiani, Milão, 2009.

DESCARTES, René. Obra Escolhida. Tradução de J.Guinsburg e Bento Prado Júnior. Prefácio e notas de Gérard Lebrun. Introdução de Gilles-Gaston Granger. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1994.

DESCARTES, René. Meditações sobre Filosofia Primeira. Tradução de Fausto Castilho. Campinas, Editora da UNICAMP, 2004.

DESCARTES, René. O mundo e O homem. Tradução de César Augusto Battisti e Marisa Carneiro de Oliveira Franco Donatelli. Campinas, Editora da UNICAMP, 2009.

DESCARTES, René. Princípios de Filosofia. Tradução de Guido Antônio de Almeida, Raul Landim Filho, Ethel M. Rocha, Marcos Gleiser e Ulysses Pinheiro. Rio de Janeiro, Editora UFRJ, 2002.

CASTILHO, Fausto. Curso sobre Descartes. Campinas, UNICAMP, 1998, mimeografado.

ESPINOSA, B. Tratado da emenda do intelecto. Tradução de Cristiano Novaes de Rezende. Campinas, Editora da UNICAMP, 2015.

FAYE, Emmanuel, Philosophie et perfection de l’homme. Paris, Vrin, 1998

GARBER, Daniel. Descartes Embodied. Cambridge, Cambridge University Press, 2001.

GILSON, E. Discours de la méthode. Texte et commentaire. Paris, Vrin, 1967.

GUEROULT, Martial. Descartes selon l’ordre des raisons. Paris, Aubier, 2 volumes.

GUENANCIA, Pierre. L’inteligence du sensible, Paris, Gallimard, 1998.

GUENANCIA, Pierre. La voie des idées. Paris, PUF, 2015. https://doi.org/10.3917/puf.guena.2015.03

HEIDEGGER, M., Gesamtausgabe. Frankfurt, Vittorio Klostermann, 1976.

LAPORTE, Jean. Le rationalisme de Descartes. Paris, PUF, 1945.

LEVINAS, Emmanuel. Totalité et infini. Paris, LGF, 1990.

KAMBOUCNER, Denis. L’homme des passions. Paris, Albin Michel, 1995, 2 volumes.

KANT, I. Manual dos cursos de Lógica Geral. Tradução de Fausto Castilho. Campinas, Editora da UNICAMP, 2003.

KOYRÉ, Alexandre. Introduction à la lecture de Platon, suivi de Entretiens sur Descartes. Paris, Gallimard, 1962.

LANDIM, Raul. Evidência e verdade no sistema cartesiano. São Paulo, Loyola, 1992.

MARION, Jean-Luc. Sur l’ontologie grise de Descartes. Paris, Vrin, 1993.

MARION, Jean-Luc. Sur la théologie blanche de Descartes. Paris, PUF, 1991.

MARION, Jean-Luc. Sur la pensée passive de Descartes. Paris, PUF, 2013. https://doi.org/10.3917/puf.mario.2013.01

MARQUES, Jordino. Descartes e sua concepção de homem. São Paulo, Loyola, 1993

RENAULT, Laurence. Descartes ou la félicité volontaire. Paris, PUF, 2000.

RODIS-LEWIS, Geneviève. L’oeuvre de Descartes. Paris, Vrin, 1971.

SILVA, Franklin Leopoldo e. Descartes: A metafísica da modernidade. São Paulo, Moderna, 1993.

TEIXEIRA, Lívio. Ensaio sobre a moral de Descartes. São Paulo, Brasiliense, 1990.

WOLFF, Francis. Notre humanité. Paris, Fayard, 2010.

Downloads

Publicado

2021-02-12

Como Citar

GUIMARÃES TADEU DE SOARES, A. . Considerações sobre a impossibilidade de definir o homem a partir de Descartes. Educação e Filosofia, Uberlândia, v. 34, n. 72, p. 1157–1188, 2021. DOI: 10.14393/REVEDFIL.v34n72a2020-59282. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/EducacaoFilosofia/article/view/59282. Acesso em: 3 maio. 2024.

Edição

Seção

Dossiê A ideia de homem em Descartes