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Natureza humana

versão impressa ISSN 1517-2430

Nat. hum. v.1 n.1 São Paulo jun. 1999

 

ARTIGOS

 

A clínica em Winnicott

 

The winnicottian clinic

 

 

Gilberto Safra

Instituto de Psicologia USP
PUC-SP

 

 


RESUMO

O autor apresenta alguns princípios da clínica winnicottiana através da discussão do artigo de Winnicott de 1941 intitulado "A observação de bebês em uma situação estabelecida". Enfatiza a dimensão do tempo como fator fundamental na situação clínica. A situação clínica organiza-se ao redor do gesto, da ação, do acontecer do self. Por essa razão a intervenção do analista aborda fundamentalmente a ação no mundo. Desde as primeiras sessões é importante permitir que o gesto do paciente crie o final da sessão, para que haja um trabalho de construção da finalização da análise e do morrer, como parte da saúde.

Palavras-chave: Winnicott, Clínica, Tempo, Ação.


ABSTRACT

The author presents some of the principles of the winnicottian clinic through the discussion of Winnicott's article of 1941 "The observation of Infants in a Set Situation". It is stressed the dimension of time as a fundamental factor in the clinical situation. The clinical situation organizes itself around the gesture, the action, the happening of the self. For this reason the analyst's intervention fundamentally approaches the action in the world. From the first sessions it is important to allow the patient's gesture that creates the end of the session this permits that a work of the ending of analysis of dying as part of health.

Keywords: Winnicott, Clinical situation, Time, Action.


 

 

A clínica em Winnicott tem princípios diferentes daqueles que regem a clínica psicanalítica tradicional. Ao enfocarmos o procedimento psicanalítico a partir dos conceitos de self1 e de processo maturacional2 temos que rever os procedimentos clínicos utilizados na situação analítica. Winnicott (1971) afirma que o self tem uma totalidade baseada nas operações do processo maturacional, auxiliado pelo meio ambiente humano. O self encontra a si mesmo naturalmente colocado no corpo, mas pode em certas circunstâncias tornar-se dissociado do corpo, e o corpo do self. O self reconhece a si mesmo nos olhos e na expressão facial da mãe e no espelho que pode representar o rosto materno. Eventualmente, o self chega a uma relação significativa entre a criança e a soma de identificações, que se organizam em uma realidade psíquica viva. O relacionamento da criança com sua organização psíquica interna altera-se segundo as expectativas apresentadas pelos pais, por aqueles que se tornaram significativos na vida externa do indivíduo. É o self e a vida do self que dá sentido à ação ou ao viver do indivíduo que pôde chegar a um desenvolvimento satisfatório e que continua a crescer da dependência e da imaturidade à independência e à capacidade de identificar-se com objetos de amor maduros sem perda da identidade individual.(ver Gaddini 1985)

"A human being is a time-sample of human nature". É com esta frase que Winnicott inicia o primeiro capítulo de seu livro Human Nature (1988). Temos aqui um olhar que aborda o ser humano a partir da dimensão temporal. A singularização do homem é um fenômeno de temporalização. É no tempo e com o tempo que se dá o acontecer do homem. Enquanto nas teorias psicanalíticas anteriores a análise privilegiava o conteúdo de um psiquismo existente, na perspectiva winnicottiana o acontecer humano no tempo será o ponto de vista fundamental.

É neste campo que precisamos compreender o conceito de self . Ele é um fenômeno processual, não se trata de uma entidade ou instância, mas uma ocorrência que se dá em contínuo devir ao longo do processo maturacional. Não se pode pensar o self sem compreender o processo do surgir humano no tempo. O self jamais termina sua constituição, está sempre aberto para o porvir em direção à morte, sua derradeira realização. O homem anseia pelo seu futuro, que paradoxalmente é início de si mesmo, isso, evidentemente, quando o si mesmo pôde ter um início. "What we call the beginning is often the end and to make an end is to make a beginning. The end is where we start from".3 Na visão de Winnicott, a morte é parte saudável do processo maturacional.

No artigo intitulado, "The Observation of Infants in a Set Situation" (1941) encontramos o que considero ser a matriz clínica do pensamento de Winnicott. Os princípios da clínica winnicottiana, que encontraremos desenvolvidos, mais amplamente, ao longo de seus textos, de alguma forma, já estão presentes no artigo citado. Esta mesma matriz é reencontrada nas consultas terapêuticas, na psicanálise segundo a demanda, na maneira como Winnicott conduzia as sessões do processo analítico.

Nas observações em uma situação estabelecida, Winnicott recebia o bebê com sua mãe. Fincava uma espátula na mesa, de modo que ela ficasse entre ele, o bebê e sua mãe. Fazia-a vibrar, e aguardava o gesto da criança. Ele observou que, com diferentes crianças, um determinado perfil de comportamento ocorria frente à espátula, naquela situação. No primeiro momento, denominado por ele de "período de hesitação", observou que o bebê apesar de parecer estar interessado na espátula, não a tocava e nem a apanhava. Em um segundo momento, se a criança não era invadida por Winnicott ou por sua mãe, a hesitação era superada. O bebê, então, apropriava-se da espátula e realizava algum tipo de jogo com ela. A criança desinteressava-se por este objeto e iniciava um jogo em que se livrava da espátula, para em seguida recuperá-la. Essa atividade durava algum tempo, até que Winnicott finalizava a consulta, pois, para ele, esse último período significava que a criança estava pronta para ir embora. Ela já havia tido uma experiência completa. Segundo Winnicott, a experiência completa dava ao bebê o que ele denominou de lição de objeto. Desse modo, o fato de a criança querer, tomar e apropriar-se da espátula sem alterar o meio ambiente imediato situava-a de maneira distinta em seu sentido de self. Havia ocorrido uma experiência que a tinha transformado.

Esse fenômeno sempre se repetia com diferentes bebês, a não ser que a criança tivesse algum tipo de inibição; neste caso, o período de hesitação era mais longo e era acompanhado de manifestações psicossomáticas e/ou de angústias. Winnicott tratava essas crianças aguardando o desenrolar do período de hesitação, até o momento em que o bebê apropriava-se da espátula, o que levava à superação da inibição ou da problemática psicossomática da criança. O bebê tinha a oportunidade de criar o mundo e a si mesmo. A espera de Winnicott nessa observação, mostra-nos a importância da presença do analista intervindo com a sustentação da situação clínica no tempo, dando as condições para o aparecimento do gesto criativo do paciente. Esses mesmos elementos estão presentes no encontro da mãe devotada com o seu bebê, na medida em que ela se coloca em disponibilidade para que o bebê realize o gesto necessário a fim de que ela seja criada por ele.

Sempre considerei este artigo de Winnicott fundamental para se compreender os princípios de sua clínica. Nele observamos a função fundamental que tem o esperar do analista para que o seu paciente realize o gesto de apropriação do mundo, aí está o papel fundamental do tempo na condução do processo analítico, criando o lugar em que o acontecer humano possa ocorrer. Mais ainda, observamos na situação descrita por Winnicott os três períodos que revelam o ciclo vital do self: o nascimento, o acontecer de si pela apropriação do mundo e o gesto que cria o repúdio pelo objeto e também a possibilidade de morrer.

Winnicott afirma que morrer é parte da saúde, parte do processo maturacional. Mas só pode morrer quem existiu e existir é acontecer e agir no mundo humano4. É terrível olhar para a morte quando o self não se constituiu de maneira satisfatória nos diferentes níveis de suas possibilidades. A morte nessas condições é aniquilamento, é não-ser, é reencontro com as angústias impensáveis. A palavra chave aqui é esperar. É preciso esperar para que o gesto criador possa emergir, promovendo o acontecer do self. Esta é uma ação que permite o aparecimento do fenômeno de ilusão.

O conceito de ilusão em Winnicott não é o mesmo encontrado nos textos de psiquiatria. Na psiquiatria, o conceito de ilusão pressupõe uma realidade pré existente, de modo que o indivíduo, por um distúrbio perceptivo, distorce a realidade. Aqui, o fenômeno de ilusão é entendido como um sintoma psicopatológico. O que Winnicott denomina ilusão não está no registro do psicopatológico e nem corresponde ao que é descrito pela psiquiatria. Para ele, ilusão é o fenômeno pelo qual um sentido de realidade é estabelecido: a realidade subjetiva.

O fenômeno da ilusão é, na verdade, fundamental em todos os momentos do processo maturacional, quando um novo aspecto da vida, uma nova dimensão do mundo ou uma nova dimensão da realidade precisa ser encontrada e criada pelo indivíduo. O indivíduo só poderá integrar novas possibilidades de existir em seu processo de vir-a-ser se elas emergirem no campo da ilusão.

Pode-se observar que a mãe cuida de seu bebê, organizando-se segundo o ritmo dele. O self da mãe entra em sintonia com o ritmo de seu filho. É interessante observarmos a mãe com seu bebê: o par realiza uma dança, segundo o ritmo apresentado pelo bebê.

Com Winnicott, é possível afirmarmos que nada no ser humano se constitui sem a presença do outro. Tudo o que emerge num indivíduo que não possa ser constituído em presença de outro, é um abismo no self, é agonia impensável. São áreas da existência que demandarão do analista o manejo da regressão na situação analítica, para que o ponto da angústia impensável seja alcançado. Este é um procedimento clínico no qual será necessário um bom manejo e uso do tempo da sessão. É aqui que o paradigma apresentado por Winnicott no jogo da espátula mostra-se bastante significativo. A sessão necessita de um começo, um meio e um fim, este é o ciclo da existência humana. Ele determina a condução das sessões e de todo o processo analítico. É por esta razão que a sessão analítica winnicottiana não tem uma duração convencional. Ela transcorrerá ao longo do tempo necessário, para que seja possível dar-se conta das questões com as quais se está trabalhando naquele período da análise. Assim como a espátula em um determinado momento da consulta é jogada fora, também será necessário que o paciente tenha caminhado o suficiente em sua sessão de análise para que possa se livrar do analista no final da hora.

Ao trabalhar junto com o paciente as questões que ele traz ao encontro analítico, precisamos também estar atentos para o momento em que ele se prepara para terminar a sessão. Uma vez que o trabalho da sessão tenha sido realizado, o paciente a finaliza por meio de um gesto que assinala que ela pode ser interrompida: ele se livra do analista até o próximo encontro. Observamos também na sessão de análise os três períodos descritos no jogo da espátula: o período de hesitação, o período de encontro propriamente dito com o uso da situação analítica e o período de finalização.

No período de hesitação, o analista, usualmente, intervém muito pouco, esperando o tempo suficiente para que a situação que necessita de trabalho possa emergir e ganhar configuração no espaço analítico. Quando isto ocorre é evidente tanto para o analista quanto para paciente que o trabalho com as necessidades do paciente pode ser iniciado, até que este não mais precise do analista naquela hora, o que determina o final da sessão. O ponto importante é: a finalização da sessão está subordinada ao gesto do paciente. Ele é fundamental, não só para uma única sessão de análise, mas para todo o processo de análise, já que esse procedimento permite que o final da análise se configure, desde a primeira sessão.

Uma técnica que não leve em conta esse fenômeno, tende a organizar o tempo da sessão pelo tempo convencional, o que significa que algumas vezes a sessão será finalizada quando o paciente ainda não estará pronto para finalizar o trabalho daquela sessão. Isso traz repercussões transferenciais consideráveis, porque, se o analista encerra a sessão segundo o tempo convencional, colocará o paciente em suspensão transferencial. O paciente precisará de seu analista não só na próxima sessão, mas também durante todo o período de tempo que transcorrerá até o próximo encontro, ou seja, o analista torna-se excessivamente necessário na vida do paciente.

O terapeuta, dessa maneira, ganha na vida do analisando uma importância que excede as suas necessidades de self (do paciente). Como decorrência desse fenômeno, acontece, freqüentemente, uma certa dificuldade de finalização da análise, pois o analista, nessas condições, está sempre comunicando ao seu paciente por meios não-verbais que não suporta ser destruído.

É pelo manejo do tempo que será possível, para Winnicott, exercer a psicanálise segundo a demanda, como discutida em "The Piggle- an account of the psychoanalytic treatment of a little girl" (1977).

Winnicott recebia a paciente no momento em que ela pedia a sessão, ou seja, quando ela estava pronta para trabalhar uma determinada questão. A sessão terminava quando Piggle se desvencilhava de Winnicott. O que lhe possibilitava ficar sem sessão por um longo período, até que ela pedia uma nova sessão, para que fosse trabalhada a questão emergente do momento seguinte. O manejo da temporalidade na sessão influi decisivamente na quantidade de sessões necessárias para lidar com uma determinada situação clínica.

Essa maneira de lidar com a dimensão do tempo permite o aparecimento do espaço potencial5 como campo fundamental do trabalho a ser realizado. Desde a primeira entrevista, e ao longo do processo de análise, jamais poderemos interpretar ou intervir sem que a possibilidade de brincar do paciente esteja estabelecida na relação entre analista e paciente. Não há a possibilidade de se realizar um trabalho satisfatório sem que o espaço potencial esteja constituído na relação. Todo trabalho fora do espaço potencial é doutrinário, pois submete o paciente à teoria adotada pelo analista. Isso determina a maneira como se lida com a transferência nesta perspectiva clínica. Só se trabalha através de intervenções e interpretações a partir do momento em que existe o espaço potencial.

A transferência é compreendida por esse vértice como uma forma de brincar. O paciente faz um movimento de busca do analista e o analista, por sua vez, deixa-se encontrar através da singularidade e do estilo de ser do paciente. O analista lá está, em disponibilidade, para ser usado pelo paciente e para vir a ser destruído em um determinado momento do percurso da análise. A destruição do analista como objeto subjetivo6 é um momento fundamental na análise, mas a disponibilidade do analista de colocar-se no lugar do objeto subjetivo implica também a capacidade de poder jogar, de viver dentro do espaço potencial.

É importante assinalar que a possibilidade da criação do objeto subjetivo dentro da análise está fundada em um movimento semelhante ao da criança quando cria sua mãe, momento em que surge o fenômeno de ilusão. Este é o gesto que parte da necessidade de vir a ser, de existir. Isto significa que desde o primeiro momento de encontro, o analista precisa reconhecer qual é a busca que o paciente realiza, qual é a sua necessidade. O que significa poder diagnosticar como se organiza o self do paciente, a fim de que o analista possa permitir que o seu analisando crie a situação clínica segundo as suas necessidades e em um tempo singular.

O analisando apresenta a sua questão de vida pela maneira como fala, como se veste, como organiza os elementos de seu cotidiano. Toda a sua vida é expressão de sua criatividade e dos meios pelos quais busca as funções necessárias para colocar em marcha o seu self. É a partir desses aspectos que o enquadre é definido e o processo analítico é conduzido para promover as condições necessárias para que um gesto, que inaugure uma possibilidade de existir, possa acontecer. Da mesma forma, precisamos compreender que, para que isso ocorra, é necessário que a interpretação do analista não tenha o objetivo de decifrar, mas de promover a ação constitutiva. Não se trata de revelar uma verdade que estaria dada e que teria sido reprimida e distorcida, não é essa a meta da intervenção em Winnicott. A questão não é abordar um significado reprimido ou distorcido, mas sim enfocar um agir no mundo. Este é um ponto importante, pois estamos falando da criatividade humana que emerge na ação. Não se trata aqui do que foi descrito em psicanálise como atuação ou acting out, mas sim do gesto, de uma ação que abre possibilidades de ser no mundo. Mesmo quando Winnicott se utilizava do modelo edípico em suas sessões de análise, não o usava em seu trabalho interpretativo para enfocar possíveis desejos recalcados, mas sim como um campo que daria as condições para que uma ação constituísse uma possibilidade de ser no mundo.

O enquadre psicanalítico fornece as condições para o acontecer humano, sendo um lugar em que a ação constitutiva pode se dar. São esses os princípios que permitem que os diferentes níveis da constituição do self no mundo possam se estabelecer tais como: os diferentes sentidos de realidade, o público e o privado, a inserção do homem no mundo, a desconstrução do mundo, a originalidade no campo social e assim por diante.

A inserção do indivíduo no mundo permite que possamos utilizar os objetos culturais como meios de intervenção na situação analítica. O homem pode então dialogar com os seus ancestrais enriquecendo-se com as experiências das gerações anteriores, preservadas na tradição cultural. São percursos que dão ao homem a oportunidade de encontrar sua originalidade na tradição.

Algo importante de se ressaltar é como o desenraizamento social e cultural nesta etapa do processo maturacional pode fazer com que o indivíduo experimente angústias impensáveis. Nestas condições os objetos culturais auxiliam o paciente a encontrar os elementos que o inserem novamente em sua etnia e em sua cultura. O interessante, aqui, é que esses objetos são importantes não por terem significados ou por representaram a sublimação de desejos, mas por sua atualidade. São portas para aberturas de mundos e de experiências de ser.

É através da passagem pelo mundo que o homem pode abandoná-lo ao morrer. Assim, o processo psicanalítico não termina enquanto não colocar o morrer sob o domínio da criatividade do analisando. A morte é então parte da saúde e a análise pode, a partir desse ponto, ser encerrada. É com essas condições que o indivíduo pode afirmar: "Oh God! May I be alive when I die!" (Winnicott 1978).

 

Referências bibliográficas:

Arendt, H 1997[1958]: A condição humana. Trad. Leon Algamia. Rio de Janeiro, Ed. Forense Universitária.         [ Links ]

Gaddini, R. 1985: "The precursors of transicional objects and phenomena", in Winnicott Studies. The journal of the Squiggle Foundation. n.1, primavera, pp. 49-57.

Winnicott, C. 1994[1978]: "D. W.W.: Uma reflexão.", in: Winnicott 1994[1978].

Winnicott, D. W. 1994[1978]: Explorações psicanalíticas. Trad. José Octavio de Aguiar Abreu. Porto Alegre, Artes Médicas.

______ 1993[1941]: "A Observação de bebês em uma situação estabelecida", in Winnicott 1993[1941].

______ 1993[1941]: Textos Selecionados. Da Pediatria à Psicanálise. 4ª ed. Trad. Jane Russo. Rio de Janeiro, Francisco Alves.

______ 1992[1971]: Playing and reality. London, New York, Tavistock/Routledge.

______ 1991[1977]: The Piggle - an account of the psychoanalytic treatment of a little girl. London, Penguin Books.

______ 1992[1988]: Human Nature. London, Free Association Books.

 

 

1 O self acontece a partir das potencialidades do bebê auxiliadas pelo meio ambiente favorável, alcançando ao longo do processo maturacional um sentido de totalidade. Trata-se de um conceito fenomenológico e não-estrutural.
2 O processo maturacional refere-se ao acontecer humano na dimensão temporal, em que as potencialidades do bebê realizam-se e evoluem com o auxílio do meio ambiente.
3 T. S. Eliot citado por Winnicott 1978, p. 4, em seu esboço autobiográfico.
4 Considero bastante esclarecedora as reflexões da Hanna Arendt (1958) sobre o mundo. Ela nos diz que a realidade do mundo é garantida pela presença dos outros, pelo fato de aparecer a todos. É o lugar de permanência dado pelas obras humanas (p. 211).
5 Winnicott postula a existência de um espaço potencial entre o bebê e sua mãe. Esse conceito contrasta com o mundo interno e com a realidade externa. É a terceira área da experiência humana, na qual acontecem o brincar, as vivências culturais. Essa área é fruto da superação da situação de ilusão, fundante do self do bebê.
6 O objeto subjetivo é fruto da criatividade primária e da onipotência do bebê, possibilitando o aparecimento da experiência de ilusão que funda o acontecer humano.