Abstract
No capítulo X de A Estrutura das Revoluções Científicas (1962) de Thomas Kuhn o conceito de paradigma figura como elemento filosófico central na tensão que se estabelece entre o âmbito perceptivo/cognitivo versus o âmbito ontológico do “problema da mudança de mundo”. No presente artigo, apresento alguns desdobramentos do conceito de paradigma com o objetivo de indicar dois sentidos principais para o termo subjacentes às formulações kuhnianas no capítulo X e que são desenvolvidos na obra tardia do autor, a saber: (1) o ‘paradigma’ como exemplar, apresentado em “Postscript – 1969” (1970) e “Seconds thoughts on paradigms” (1977); e (2) o ‘paradigma’ como léxico, apresentado principalmente, em, “Metaphor in science” (1979), “Commensurability, comparability, communicability” (1983), “Possible worlds in history of science” (1989), “The road since Structure” (1990) e “Afterwords” (1993). Através do conceito de exemplar, explicito a função cognitiva que os paradigmas exercem nos membros das comunidades científicas: a singularidade dos exemplares reside não apenas no fato de eles serem exemplos-padrão para os membros de uma comunidade, mas em serem expressão de um processo cognitivo mais geral que já está pressuposto no desenvolvimento da atividade científica. Através do conceito de léxico, explicito a função constitutiva dos paradigmas como princípios a priori, porém dinâmicos e relativizados, como condições de possibilidade para a experiência do conhecimento, sendo, em particular, determinantes na experiência do sujeito no âmbito científico. Nesse sentido, a articulação teórica proposta nesse artigo evidencia que a análise do empreendimento científico na Estrutura considera processos cognitivos e ontológicos do sujeito epistêmico expressos por meio do conceito de paradigma. No entanto, essa compreensão é obscurecida diante do emprego polissêmico e impreciso do termo no decorrer de toda a obra e que se apresenta de modo particularmente conflitante no capítulo X. Palavras-chave: exemplar; léxico; paradigma; mudança de mundo; Thomas Kuhn.