Abstract
No decorrer dos últimos três séculos desenvolveu-se em ética uma dicotomia entre fatos e valores cuja influência ainda hoje gera discussões. Nesse ensejo, a intenção deste artigo é propor, a partir do realismo-cognitivo de Scanlon, uma leitura alternativa a respeito dessa dicotomia estabelecida entre fatos e valores. Em geral, boa parte desse problema deve-se ao motivo de que as reivindicações do domínio normativo são muitas vezes avaliadas a partir da ótica da ciência, isto é, da visão científica de mundo. Mas conforme buscarei sustentar, é preciso que o domínio normativo seja avaliado a partir dos padrões de seu próprio domínio cujo elemento básico é a relação ser uma razão para. Verdades normativas são irredutíveis na medida em que são determinadas por certos padrões de resposta dentro de um domínio específico em si mesmo, o que no campo normativo é realizado pela ideia de reivindicações normativas puras. Assim, partindo-se do pressuposto de que verdades normativas são irredutíveis e que, nesse caso, podem ser verdadeiras ou falsas, o melhor modo de compreendê-las é a partir da relação R, sendo p um fato, x um agente, c um conjunto de condições e circunstâncias e a uma ação ou atitude. A partir desse padrão constituído no interior do domínio normativo, a relação R estabelece que p é uma razão para um agente x realizar uma ação ou atitude a no conjunto de condições e circunstâncias c. se isto estiver certo, então, ao menos em termos normativos, o hiato entre fato/valor parece ser transponível.