Abstract
Marajó (1947) é o segundo dos dez romances que compõem a série Extremo Norte, escrita ao longo de quarenta anos pelo paraense Dalcídio Jurandir (1909-1979). Grosso modo, o romance apresenta tanto um vasto painel socioantropológico da Ilha de Marajó, com cenárioa partir da então vila de Ponta de Pedras, quanto um quadro das relações de poder entre gerações de ricos fazendeiros, de um lado, e a gente pobre, negra e mestiça, por eles subjugada e explorada, de outro. Assim, no presente artigo cuidaremos da trajetória do personagem Missunga, filho de Coronel Coutinho, até que assuma o lugar do pai na ordem hierárquica social. Tal trajetória nos permitirá pensá-la com o auxílio de conceitos como “mimesis originária” e “vacilação identificatória”, oriundos do pensamento de Adorno e Horkheimer, assim como o de “duplo” da psicanálise freudiana. Do mesmo modo, a trajetória e condição do proscrito Ciloca, o leproso, ensejará o uso de “infamiliar” e novamente de “duplo” para pensarmos, por outro lado, essa trajetória e condição como elemento de resistência e enfrentamento daquela mesma ordem.