Abstract
Hoje eu gostaria de começar analisando as primeiras ocorrências da palavra parrhesia na literatura grega, como a palavra aparece nas seguintes seis tragédias de Eurípides: Fenícias; Hipólito; As Bacantes; Electra; Íon; Orestes. Nas primeiras quatro peças, a parrhesia não constitui um tópico importante ou tema; mas a própria palavra geralmente ocorre num contexto preciso que nos ajuda no entendimento de seu significado. Nas últimas duas peças – Íon e Orestes – a parrhesia assume um papel muito importante. De fato, eu penso que Íon é inteiramente consagrado ao problema da parrhesia, uma vez que investiga a questão: Quem tem o direito, o dever e a coragem de falar a verdade? Esse problema parrhesiástico em Íon é levantado na estrutura das relações entre os deuses e os seres humanos. Em Orestes – que foi escrito dez anos mais tarde e, por essa razão, é uma das últimas peças de Eurípides – o papel da parrhesia não é nem de longe tão significativo. E ainda assim a peça contém uma cena parrhesiástica que garante a atenção na medida em que é diretamente relacionada a questões políticas que os atenienses estavam então levantando. Aqui, nessa cena parrhesiástica, há uma transição concernente à questão da parrhesia tal como ela ocorre no contexto das instituições humanas. Especificamente, a parrhesia é vista como uma questão tanto política quanto filosófica.