Abstract
Os mitos antigos não estão mortos. A partir desta afirmação fundamentada nas obras de autores como Warburg, Jean Seznec, Erwin Panofsky e Fritz Saxl, este trabalho pretende apontar os caminhos históricos que legitimaram a sobrevivência do mito das sibilas no mundo cristão, em sua estreita relação com a astrologia. O paganismo não renasceu após o medievo, mas esteve sempre presente no cristianismo, não só como símbolos, mas como efetiva influência essencial sobre os homens e as suas vidas. Alguns momentos históricos em particular são privilegiados neste caminho, desde os padres apologistas do cristianismo primitivo até o nascimento da ciência moderna. Sibilas e astrologia, como testemunhos “de fora” são presença constante seja na teologia cristã, seja na literatura e na música, ou nas representações plásticas do mundo cristão, que aqui privilegiamos. A sua sobrevivência ou pós-vida é ora afirmada também pela legitimação de grandes nomes da patrística e da escolástica, e ainda por meio da influência de Albumasar, teólogo muçulmano nascido no século VIII e que faz o elo entre sibilas, astrologia e a Virgem Maria. O que fazem as sibilas nos tetos das igrejas católicas? É esta a pergunta que o presente trabalho pretende, em grande medida, responder.