Abstract
A concepção habermasiana do papel, do potencial normativo e dos limites da religião na esfera pública se desenvolve, se transforma e evolui ao longo das diferentes etapas do seu profícuo pensamento teórico-crítico. Neste artigo, proponho-me a revisitar tal concepção, partindo de sua autoavaliação enquanto constelação do pensamento pós-metafísico, atendo-me apenas ao seu inacabado programa de reconstrução normativa do mundo da vida (Lebenswelt) pós-secular em democracias pluralistas, à luz de algumas das suas contribuições seminais e interlocuções com a teologia política de Johann Baptist Metz, a ideia de publicidade (Öffentlichkeit) e públicos (publics) de Nancy Fraser e a reformulação do problema das formas de vida social, alienação e reificação em Rahel Jaeggi (Kritik von Lebensformen). Proponho, destarte, situar uma teoria crítica da libertação como um exemplo concreto particular da crítica permanente de formas de vida que nos permitem melhor explicitar os aspectos comunicativos e intersubjetivos da reprodução social e seu potencial normativo emancipatório em práticas cotidianas voltadas para o reconhecimento e o entendimento mútuos em solidariedade com os excluídos, suscetíveis de justificação discursivo-normativa numa esfera pública (Öffentlichkeit) tradicionalmente dominada por interesses oligárquicos, autoritários e elitistas, como tem sido historicamente o caso do ethos social brasileiro.