Abstract
Tomando por fio condutor o ensaio de Jean-Paul Sartre sobre Francis Ponge, “O homem e as coisas”, publicado em Situações I, este artigo visa problematizar o lugar da poesia como “voz das coisas”, isto é, a tentativa de neutralização do para si em benefício do ser em si. Fundado na metáfora da “petrificação” poética, o efeito das imagens visa a renovação da linguagem a partir do contato originário entre as palavras e as coisas. Entre as iniciativas poéticas que merecem maior relevo, destaca-se a valorização da antilírica e a substantivação poética centrada no poder nominativo da linguagem. O exercício poético, porém, apesar de visar “as coisas mesmas” e o que Sartre chamou de “fenomenologia materialista”, tem seus limites na própria condição humana. Pela ação de projetar-se sobre as coisas o homem visa libertar a linguagem de uso pragmático e, ao mesmo tempo, pensar o objeto sem parti pris idealista.