A questão que se tenta construir neste texto é a da convergência entre filosofia, história da filosofia e formação. Tal pergunta se desdobra primeiramente na elucidação das relações entre história e historicidade da filosofia, que remonta à constatação óbvia, mas nem sempre lembrada, de que o fundamento da história da filosofia é o caráter histórico da própria filosofia. A idéia de formação está presente em toda filosofia, já que, antes de ser (...) sistema ou concepção cristalizada da realidade, cada filosofia é sempre um exercício de síntese das possibilidades e das circunstâncias da vida humana, inclusive sob o aspecto do trabalho da reflexão. Nesse sentido, o texto remete a algumas idéias de Bergson acerca de formação e processo, e à noção sartriana de práxis como formação e superação contínua dos momentos estruturais do curso da história. Assim compreendida, a relação entre história da filosofia e filosofia contém inevitavelmente o compromisso com a atualidade, isto é, com a formação atual do pensamento. (shrink)
Este artigo trata do tema da História da Filosofia segundo o pensamento de Richard Rorty. Vale-se, para tanto, de vários textos do autor, dentre os quais se destaca The historiography of philosophy: four genres. Aqui e acolá, quando apropriado, referências a outros autores são realizadas.This paper deals with the History of Philosophy issue in Richard Rorty's thought. For that matter, it dwells upon many essays of the author, not the least of which is The historiography of philosophy: four (...) genres. Here and then, whenever appropriate, references to different philosophers are done. (shrink)
Este trabalho tem por objetivo apresentar diferentes concepções sobre a educação das crianças na perspectiva de filósofos e educadores, considerados como alguns dos autores mais representativos no estudo do tema. Trata-se de uma pesquisa de caráter bibliográfico, fundamentada na construção de conhecimentos oriundos das contribuições de autores clássicos e contemporâneos, além de estudos posteriores feitos por estudiosos e pesquisadores sobre as idéias de tais autores. Esse procedimento é necessário porque nem todos os autores trataram sistematicamente do tema em questão, mas (...) apenas abordaram-no esporadicamente em aforismos, ensaios e proposições. Assim, teremos seqüencialmente o estudo e a interpretação de algumas idéias encontradas nas obras Platão, Montaigne, Descartes, Locke, Rousseau, Kant, Vygotsky, Dewey, Piaget e Lipman. A partir da compreensão dos avanços e retrocessos no estudo da educação da criança defendemos a necessidade e a relevância do estudo dessa temática no âmbito acadêmico, particularmente, na disciplina filosofia da educação, pois conforme acreditamos, a mesma constitui um dos principais campos teóricos na contribuição para a formação de futuros educadores. (shrink)
This is not a true panorama, but rather a simple bibliographical sketch without commentary or criticism of the primary sources for the study of Brazilian thought. It includes the major authors of the XVI and XVII century both in the Erasmian and in the scholastic traditions, together with those of the Enlightenment and of Romantic Positivism and Idealism. The most detailed chapter deals with the transition to the XX century, from Silvio Romero who received and adapted the systematic philosophies of (...) Schopenhauer and Hartmann, to Farias Brito who commented on and synthesized all the major trends of philosophy in his day: Lange, Kuno Fischer, Gratry, Renouvier, Spencer, and even Bergson. The classification and survey of sources in the XX century is less careful and accurate. Since the work ends in 1960, much remains to be known about the expansion of the study of philosophy and the improvement of philosophical techniques in Brazil in the past ten years.--A. M. (shrink)
À pergunta "O estudo de história da filosofia é de algum interesse para a própria filosofia?", diferentes são as respostas. Tomando-se como referência a defesa merleau-pontyana de uma intrínseca relação entre filosofia e história da filosofia e, particularmente, as ideias de Merleau-Ponty contidas no excerto "A Filosofia e o ‘Fora’", o presente artigo procurará subsidiar a tese de um ensino filosófico da filosofia. Objetiva, pois, encontrar argumentos subjacentes à tese de uma (...) class='Hi'>história filosófica da filosofia para fundamentar as relações entre a filosofia e seu ensino. There are different answers to the following question: "Is there any interest, to philosophy itself, on the study of history of philosophy? Considering Merleau-Ponty’s argument of an intrinsic relationship between philosophy and history of philosophy, and, particularly his ideas contained in the excerpt "Philosophy and the Outside", this article will support the thesis of a philosophical teaching of philosophy. It aims, therefore, to find arguments underlying the thesis of a philosophical history of philosophy to substantiate the relationship between philosophy and its teaching. (shrink)
Este artigo visa situar o significado da obra de Kierkegaard no contexto da história da filosofia moderna. Após caracterizar os momentos determinantes da história da filosofia moderna em suas relações dialéticas com o processo histórico numa época de desenvolvimento revolucionário da sociedade, o artigo reconstitui os argumentos de Kierkegaard em torno da oposição absoluta e não dialética entre a experiência vivida dos indivíduos e o saber racional para apresenta- los como um momento determinado do desenvolvimento da (...)filosofia moderna. (shrink)
Rsenha da obra: GUTTMANN, Julius. 4 Filosofia do Judaismo — A História da Filosofia Judaica desde os Tempos Bíblicos até Franz Rosenzweig, São Paulo: Perspectiva, 2003, 480 p., Trad. de J. Guinsburg, Apresentação do Tradutor e Prefácio à edição Brasileira de Roberto Romano, Posfácio de Fritz Bamberger, ISBN 852730530-5.
São muitas e, até hoje, muito controvertidas as opiniões referentes à função e ao lugar sistemático da filosofia da história de Kant no todo do seu projeto crítico-transcendental; nem há consenso quanto à importância ou relevância filosófica dos diversos escritos em que Kant aborda e defende os seus teoremas histórico- políticos. – No presente trabalho, pretende-se interpretar a “doutrina” histórico-filosófica kantiana – não obstante o seu caráter fragmentário e até aparentemente nem sempre coerente – na perspectiva da sua (...) possível homogeneidade e compatibilidade com os elementos centrais da própria teoria-base transcendental. Isso significa, antes de mais nada, ler os respectivos teoremas não como resultados de um raciocínio dogmático baseado num saber do processo histórico, mas como um conjunto de teses e postulados baseados no mero suposto subjetivo-racional de um progresso, ou seja, na idéia não só da possibilidade mas da necessidade (subjetiva) da razão de implantar princípios racionais na história. PALAVRAS-CHAVE – Kant. Filosofia transcendental. Sistema. Filosofia da história. ABSTRACT There are many different and controversial opinions about the function and the systematic place of Kant’s philosophy of history in the context of his critical-transcendental project on the whole, as well as about the philosophic relevance of his historical-political writings. – This paper aims to interpret Kant’s historical-philosophical “doctrine” – in despite of its fragmentary character and of some apparent incoherences – in the horizon of its possible homogeneity and compatibility with the central elements of the basic transcendental theory. That means, above all: read the theorems in question not as results of a dogmatic thought based on the knowledge of historical processes, but as a set of thesis and postulates based on the mere subjective- rational supposition of progress, that is, on the idea that it is not only possible, but a (subjective) need of reason to implant rational principles in history. KEY WORDS – Kant. Transcendental philosophy. System. Philosophy of history. (shrink)
Neste trabalho, nosso objetivo foi expor a relevância das bases teórico-metodológicas da história da educação do tempo presente e desta para a pesquisa histórico-educacional. Partimos dos alicerces da história do tempo presente, destacando alguns conceitos construtores desse campo oriundos de autores como Rémond, Bédarida e Chartier, entre outros. A seguir, trabalhamos os avanços e os desafios enfrentados pelos pesquisadores desse campo. As fontes disponíveis para as pesquisa da história da educação do tempo presente foram destacadas, argumentando que (...) a abundância delas e a proximidade do pesquisador em relação ao tempo da sua ação não facilitam a pesquisa e não diminuem sua necessária rigorosidade. Os alicerces da história do tempo presente, os desafios, os avanços, suas fontes abundantes e sua aplicação rigorosa constroem uma nova epistemologia para a história da educação, marcada pelas incertezas que referenciam a centralidade da problematização na pesquisa histórica. Toda essa argumentação é reforçada pela idéia originária de que a educação, como uma prática social, exige de seus pesquisadores a consecução dos depoimentos orais, das informações e de todos os tipos de documentação oriundas dos sujeitos que a fizeram/fazem. Dans ce travail, nous avons eu pour objectif de montrer et de défendre l’importance de l’histoire de l’éducation du temps présent pour la recherche historico-éducative. Nous avons pris comme point de départ les fondements de l’histoire du temps présent, en soulignant quelques concepts constructeurs de ce champ créés par des auteurs tels que Rémond, Bédarida et Chartier, entre autres. Ensuite, nous avons analysé les avancements et les enjeux affrontés par les chercheurs de ce domaine. Les sources disponibles pour les recherches sur l’histoire de l’éducation du temps présent ont été mises en relief, en considérant le fait que leur abondance et la proximité du chercheur par rapport au moment de son action ne facilitent pas son travail ni en diminuent la rigueur nécessaire. Les fondements de l’histoire du temps présent, les enjeux, les avancements, ses sources abondantes et son application rigoureuse construisent une nouvelle épistémologie pour l’histoire de l’éducation marquée par les incertitudes qui fondent la centralité de la problématisation dans la recherche historique. Toute cette argumentation est renforcée par l’idée originaire selon laquelle l’éducation, en tant que pratique sociale, exige de ses chercheurs la consécution des témoignages oraux, des informations ainsi que de toute sorte de documents provenant des sujets qui l’ont faite/la font. (shrink)
O presente trabalho apresenta os bastidores de uma pesquisa realizada sobre a Faculdade Católica de Filosofia de Rio Grande (1960- 1969), cuja criação marcou o início dos cursos superiores voltados à formação docente na cidade. Para destacar sua história, recorre-se a diferentes fontes, como documentos institucionais, jornais locais e relatos orais, cuja utilização será aqui abordada. Nesse sentido, tem-se como base os caminhos abertos pela História Cultural as quais vêm propiciando a ampliação de problemas, objetos e temas (...) de pesquisa histórica. Constata-se que a multiplicidade de histórias e memórias sobre essa instituição educacional só foram descortinadas devido à ampliação do olhar sobre as diferentes fontes de pesquisa. (shrink)
A história da psicologia, tal como aparece em algumas obras (E.G. Boring 1950; M. Reuchlin 1957; P. Fraisse e J. Piaget 1963) ou em capítulos introdutórios de alguns manuais (M. Reuchlin 1977), reflete uma adesão — raramente discutida — a uma concepção internalista. Segundo essa concepção, a psicologia seria animada por uma dinâmica própria, um processo evolutivo totalmente endógeno, e seria independente de fatores externos tais como os domínios religiosos, sociopolíticos e econômicos. Além do mais, os partidários dessa (...) class='Hi'>história aceitam ver a psicologia influenciada por disciplinas situadas em suas fronteiras, como a biologia, a fisiologia e, em menor medida, a física. Esses domínios fronteiriços geralmente dizem respeito a objetos psicológicos habitualmente qualificados de inferiores, como reflexos, sensações e percepções, em oposição à linguagem e ao pensamento, qualificados como processos superiores. Esses mesmos domínios fronteiriços engendraram por sua vez subdomínios relativamente autônomos, tais como a psicofísica ou a psicofisiologia. Correlativamente a essa concepção internalista, o desenvolvimento científico é apresentado como um caminho ao estado de psicologia positiva, tal como A. Comte a definiu em 1837 na 45a lição do Curso de Filosofia Positiva. A caminhada até a positividade foi indicada pelo próprio A. Comte: estudo da anátomo-fisiologia do sistema nervoso (a frenologia de Gall lhe parece a esse respeito uma contribuição decisiva), estudos comparados, análise de casos patológicos, estudo dos comportamentos animais e do desenvolvimento individual. Considerando a evolução da psicologia nos últimos cem anos, seríamos tentados a sustentar que ela realizou o projeto positivista. Psicologia diferencial, psicopatologia, etologia animal e psicologia da criança são vários domínios que concorrem para essa realização. Entretanto, esses domínios estão longe de parecerem homogêneos quanto aos métodos empregados e os modelos epistemológicos aos quais se referem. Um exame atento dessas dimensões metodológicas e epistemológicas mostra que se avança, sobretudo, em ordem dispersa. (shrink)
Abordamos aqui a influência do método de Condillac sobre a história da química. Partindo da confessada dívida de Lavoisier com o abade, propomo-nos a avaliar o aporte que o método condillaquiano terá para a filosofia natural da segunda metade do XVIII, colocando-a primeiramente na perspectiva da onda newtoniana que contaminou progressivamente as ciências a partir do fim do XVII. Mostramos então como o método de Newton, via alquimia, é capaz de inserir aspectos alheios ao mecanicismo estrito nas discussões, (...) o que garantirá à química legitimidade para se valer de conceitos como atrações e afinidades. Mais tarde, ao constituir e sistematizar um método geral de conhecimento marcado pelo modelo newtoniano, Condillac legará aos naturalistas meios para ordenar proficuamente novas regiões de conhecimento. Quando adequadamente adaptado por Lavoisier aos problemas químicos, este método promoverá a “revolução” da química, ou seu estabelecimento definitivo como ciência positiva. (shrink)
O cinema, na mesma maneira da televisão, da prensa, e outros meios de comunicação, contribui na construção de imaginários sociais e culturais, como mostrou claramente o Bourdieu em Langage et pouvoir simbolique e o Chomsky em A Fabricação do Consenso. Contudo, o cinema a retratar fenômenos sociais, não somente constrói imaginários sino também constrói a criação de arquivos fílmicos e com eles permite construir e reconstruir uma parte da história. Essa é nossa posição, adoptando os postulados do Ferro, do (...) Kracauer e do Billard. Através a prisma da filosofia da história, o artigo pretende analisar em quê medida o cinema centro-americano contemporâneo pode ser considerado como uma forma de construção e reconstrução da memória e a história das migrações centro-americanas nas primeiras duas décadas do século XXI? (shrink)
The aim of this paper is focused on presenting the method of historical analysis built by Michel Foucault in his book Histoire de la Folie à l’Âge Classique as a “History of the Other”. Such term appears for the first time at Les Mots et les Choses’s Preface, in which Foucault analyses his method in the quoted book on madness (but also in La Naissance de la Clinique). In this sense, firstly we have to verify the hypothesis of this relation (...) between Foucault’s archeological method as a Thought of the Otherness, precisely concerning to that “Other History” proposed by the philosopher. Secondly, we need to analyse specifically Histoire de la Folie as a privileged work, as far as the approach on the relation with the other is concerned. KEY WORDS – Archeology of knowledge. History. Alterity. Madness. (shrink)
É possível ensinar filosofia? O filósofo alemão G. W. F. Hegel (1770- 1831) não somente responde afirmativamente à questão posta, como também indica o que deve ser ensinado e como em filosofia. A resposta hegeliana tem como fonte sua atividade como diretor do ginásio de Nürnberg, onde ele procura estabelecer diretrizes e procedimentos para que a filosofia seja ensinada aos jovens. Segundo Hegel, a filosofia sempre é pertinente na medida em que se manifesta sobre o que (...) é fundamental para o homem, isto é, sobre sua vida com as questões que lhe dizem respeito. Para tanto, a filosofia deve assumir o homem como seu objeto de consideração. Isto deve resultar na apreciação da realidade humana para que a partir dela sejam levados e elevados à sua maior e melhor compreensão pela reflexão e pela especulação. Tais habilidades não são adquiridas senão pelo contato direto com a filosofia em sua especificidade na sua produção histórica, ou seja, nos textos. Conhecer a história da filosofia já é aprender filosofia, mas tal aprendizagem necessita da mediação do professor. A mediação se faz necessária, pois a aprendizagem não é natural e, portanto, não se dá espontaneamente. Aprender é sempre aprender com alguém. (shrink)
presente trabalho busca explicitar alguns elementos da concepção voltairiana da história (e do historiador). A intenção não é a de inventariar, segundo uma ordem cronológica, a formação de uma filosofia da história em Voltaire, mas tão somente apresentar uma face dessa gênese, a saber, a crítica à teologia da história, que se encontra embasando aquele ponto de vista. Não há dúvida de que o erro faz parte do homem. Assim como a superstição, o fanatismo, o ódio, (...) o crime, a guerra e todos os demais efeitos do erro. No entanto, à força de destruir o erro, a verdade foi cultivada. Com efeito, o combate ao erro é um impulsionador dos homens e semelhante guerra se passa na história: a história dos progressos do espírito. Não há uma condenação perpétua do homem à ignorância e, por isso mesmo, não faz sentido conceber a história a partir de uma redenção, que indica à humanidade sua incapacidade de encontrar, por si mesma, os caminhos da superação de seus erros. Uma história sem redenção; estamos diante de uma das ambições mais importantes do pensamento voltairiano. Com ela nasce o desejo de eliminar o miraculoso, o misterioso que envolve o entendimento da história, retirando-lhe a crença ingênua no fantástico, por um lado, e a névoa espessa que a culpa e a criminalidade original lhe impuseram, por outro. (shrink)