O objetivo do artigo é compreender alguns aspectos do republicanismo de Maquiavel concedendo atenção à sua teoria dos humores. Mais especificamente, trata-se de entender qual a natureza do desejo do povo e seu papel na vida política. A principal hipótese deste trabalho é a de que a função que Maquiavel atribui ao povo, o guardião da liberdade, exige, para seu cumprimento, a participação ativa do cidadão nos afazeres cívicos, isto é, sua inscrição no espaço público como agente político. (...) Essa inscrição não pode ser inteiramente compreendida se o desejo que caracteriza o povo carecer de qualquer determinação, isto é, se for tomado somente em uma perspectiva negativa. (shrink)
Maquiavel é popularmente conhecido por uma teoria política associada ao seu nome: “maquiavelismo”. O artigo realiza um esforço inicial para afastar o pensamento maquiaveliano de semelhante concepção. Em seguida, faz uma análise detalhada de todas as ocorrências do termo “educação”, num total de onze, na sua obra. A hipótese que orienta nossa reflexão é de que a educação é pensada por Maquiavel como uma força destinada a controlar a desordem inerente ao movimento tanto do desejo quanto da natureza (...) impedindo os efeitos deletérios daquele sobre a vida política. Graças à educação, o homem é capaz de conhecer a “natureza das coisas”, isto é, saber o que as coisas são “desde sempre” e, desta maneira, antecipar-se ao “curso das coisas ordenado pelos céus”. Por fim, procuramos mostrar que, para Maquiavel, a educação possibilita moldar o comportamento dos indivíduos de tal modo que é possível redirecionar o curso das coisas para uma ordem coerente com o bem coletivo. (shrink)
This article intends to establish a contact between two proscribed thinkers: Machiavelli and Marx. Although apart in time and in political vision, they offer the possibility of a reflection which is able to provide mutual fecundation. We want to show that Machiavelli’s pessimism and Marx’s optimism both derive from the diverse understanding of what provokes the fundamental division of society into two fundamental antagonistic groups. Whereas one treats it as a division of opposite desires, to the other it is determined (...) by the way in which the individuals define themselves as to the ownership of the means of production. Is it necessary to choice on of them, or is it possible to conceive a synthesis? -/- O artigo pretende estabelecer um contato entre dois pensadores malditos: Maquiavel e Marx. Embora distantes no tempo e na visão política, oferecem a possibilidade de uma reflexão capaz de fecundar-se mutuamente. Queremos mostrar que o pessimismo de Maquiavel e o otimismo de Marx derivam da diversa compreensão daquilo que provoca a divisão fundamental da sociedade em dois grupos antagônicos fundamentais. Enquanto para um se trata de uma divisão de desejos opostos, para outro é determinada pelo modo como os indivíduos se definem em relação à posse dos meios de produção. É preciso fazer uma escolha entre ambos, ou é possível pensar numa síntese? (shrink)
Este artigo aborda a influência do republicanismo ciceroniano no pensamento de Nicolau Maquiavel e pretende demonstrar como este renova a tradição do pensamento político ocidental. Tendo como fio condutor a análise do regime misto e da virtude cívica como elemento comum aos dois autores, pretendemos estabelecer, ao final do texto, a inovação maquiaveliana do elogio dos conflitos frente à valorização da concórdia apregoada pelo republicanismo clássico.
O artigo parte da enunciação da tese de que ao desejo desmesurado dos grandes pela apropriação/dominação absoluta opõe-se um desejo não menos desmesurado e absoluto do povo de não sê-lo: dois desejos de natureza diferente que não são nem o desejo das mesmas coisas nem desejo de coisas diferentes, mas desejos cujo ato de desejar é diferente. Considerando que cada desejo visa sua efetividade absoluta, cada um tenta impor-se universalmente tornando-se duplamente absoluto: por um lado tende à dominação total (os (...) grandes) ou à liberdade plena (o povo); por outro, tenta se impor ao conjunto do corpo político. Cada desejo somente se sustenta do desejo que lhe é heterogêneo. Cada um persegue uma finalidade própria cuja realização plena será a ruína de toda vida coletiva. Boas instituições e boas leis asseguram a liberdade na medida em que forem capazes de impedir que grandes ou povo consumam seu desejo ou que abandonem seu desejo próprio para assumir o do outro. Contudo, ao inscrever a ordem da lei na desordem dos dissensos, Maquiavel descartou a idéia de uma ordem institucional como solução definitiva da desordem dos dissensos. Conseqüentemente, nenhuma lei ou instituição é capaz de resistir definitivamente ao risco da corrupção. Isso obriga ao retorno periódico às origens: a experiência do momento constitutivo da violência originária que, expondo os homens ao risco, restaura o prestígio e vigor iniciais de Estados e instituições. (shrink)
O presente texto pretende esboçar a leitura de uma teoria do acontecimento no “último Althusser”, a partir de dois textos de capital importância no conjunto de sua obra póstuma: Machiavel et nous e Le courant souterrain du matérialisme de la rencontre. No primeiro texto, Althusser busca através da análise do pensamento do secretário florentino refletir uma teoria da práxis da transformação política; enquanto no segundo ensaio, procura empreender a tarefa de construir genealogicamente uma corrente materialista onde o primado ontológico do (...) encontro substitua a teleologia do materialismo dialético. A partir destes pontos, gostaríamos de buscar uma leitura compositiva dos dois textos, no sentido de percebermos se é possível ler na ontologia althusseriana do materialismo do encontro e em sua interpretação de Maquiavel uma teoria do acontecimento. (shrink)
O presente texto aprofundará a interpretação de Althusser à obra de Maquiavel naquilo que concerne ao tema dos limites da ação humana. Tomando a análise do príncipe novo e as longas referências à oposição entre as noções de Virtù e de Fortuna, que constam principalmente da obra Política e História, pretendemos mostrar por que a leitura de Althusser do filósofo florentino nos remete a uma discussão contemporânea da filosofia política acerca dos fundamentos do poder e da própria filosofia. A (...) questão de que partimos para essa leitura do texto althusseriano é: há sentido em pensarmos um princípio fundante da ação, capaz de definir o que são os homens e daí extrair certas regras norteadoras do agir humano? (shrink)
Nas primeiras linhas de seus Discorsi, ao comparar a fundação de Roma com a fundação de Esparta, Maquiavel afirma: " se Roma não teve a primeira fortuna, teve a segunda". Nesse artigo, examinaremos no que consiste a segunda fortuna e sua possível relação com a virtù popular. Opondo-se à tradição, que associa perfeição à indivisão social e ausência do conflito, Maquiavel mostra que foi exatamente a desunião entre a plebe e os grandes o fator que operou decisivamente em (...) favor da perfeição da República e da vida livre. (shrink)
RESUMO Trata-se de aproximar Hume e Maquiavel, tomando-os como os expoentes de uma certa corrente não jusnaturalista, formada no início da idade moderna, quanto ao modo de pensar a natureza da lei e, num sentido amplo, a normatividade jurídico-política. Apesar de ter sofrido influência da escola moderna de direito natural, Hume rompe com ela num ponto fundamental - na recusa da noção de pessoa como ponto de partida para pensar a gênese social do ordenamento jurídico-político. No lugar disso, ele (...) pensou essa gênese a partir do jogo das forças sociais e da circulação das opiniões na sociedade, para o que Maquiavel se constituiu numa referência imprescindível. ABSTRACT This paper aims to bring together Hume and Machiavelli by taking both of them as exponents of a certain nonjusnaturalistic current, formed at the beginning of the modern age, which had its own way of thinking the nature of law and, in a broad sense, legal-political normativity. Despite being influenced by the modern school of natural law, Hume breaks with it in a fundamental point - in the refusal of the notion of person as a starting point to think the social genesis of the legal-political order. Instead, he thought of this genesis from the game of social forces and the circulation of opinions in society, for which Machiavelli was an indispensable reference. (shrink)
The circumstances present themselves as definitive when trying to run any human action, especially those that relate to the achievement and maintenance of power. Assuming that the higher the power of fortune less freedom to commit actions that can lead to successful political actor in the world of contingency, it becomes essential to know how it exercises power over the actions of men. But is it possible to do it precisely? We start from the historical context in which the works (...) of Machiavelli are written to understand the relationship the author establishes with tradition, sometimes taking it, now opposing it. We recovered Machiavelli’s texts and established dialogue with some commentators the author’s work to investigate the question of fortune itself. (shrink)
For Machiavelli, religion is valued not by the importance of its founder, the content of its teachings, the truth of its dogmas or the significance of its rites. It is not the essence of what really matters but its function and importance for collective life. Religion teaches to recognize and respect political rules through the religious commandments. This collective norm could assume the outer coercive aspect of the military discipline as well as the inner persuasive character of civic and moral (...) education for the production of collective consensus. -/- Para Maquiavel, o que confere valor a uma religião não é a importância de seu fundador, o conteúdo dos ensinamentos, a verdade dos dogmas ou a significação dos mistérios e ritos. Importa não a essência da religião e sim sua função e importância para a vida coletiva. A religião ensina a reconhecer e a respeitar as regras políticas a partir do mandamento religioso. Essa norma coletiva pode assumir tanto o aspecto coercivo exterior da disciplina militar ou da autoridade política quanto o caráter persuasivo interior da educação moral e cívica para a produção do consenso coletivo. (shrink)
Neste breve artigo, argumentaremos que a pandemia da Covid-19, como outras na história humana, colocou em desnudo as bases da estrutura político-econômica moderna. Defenderemos que tais bases apoiam-se em dois esteios, uma noção política de ‘Estado’, ápice da organização humana, e uma concepção racionalista, técnica e produtiva, que promulga a possibilidade de resposta a qualquer crise surgida na sociedade. Como contrapondo a esta estrutura, apresentaremos a teoria maquiaveliana, que aponta para uma relação indelével entre política e fator natural, natureza e (...) sociedade. Nesta teoria, com uma concepção antropológica própria, as necessidades impostas pela natureza frente a ação humana são determinantes para se pensar a própria construção política. Como resultado, consideraremos ser necessário repensar a estrutura político-econômica moderna em seus pretensos mitos de incontestável avanço político, por meio do ‘Estado’, e inabalável base racional, principalmente técnico-produtiva, retomando o lugar de importância do fator natural para constituição de uma sociedade mais ‘humana’. (shrink)
The text aims to examine the concept of Fortune in Machiavelli. The analysis will be carried out from the poems Di Fortuna and Dell´Occasione, the letter to Giovan Battista Soderini, the Canto VII of Hell, by Dante, and passages that make references to the concept of Fortune in The Prince. The poem Di Fortuna will be divided into eight parts in order to exam and present the Fortune’s concept.
Uma das mais famosas e inovadoras teses de Maquiavel é a afirmação de que as boas leis nascem dos conflitos sociais, segundo o exemplo romano das oposições entre plebe e nobres. Os conflitos são capazes de produzir ordem por conter a força constritiva própria da necessidade, que impede a ambição de reinar. Contudo, a lei não neutraliza o conflito, mas apenas lhe dá uma ordenação. A lei está, pois, exposta à história, à contínua mudança, o que significa dizer que (...) é potencialmente corruptível. Por causa desta possibilidade, Maquiavel afirma que um Estado somente mantém sua autoridade por meio de um retorno contínuo ao momento da origem, isto é, à revivência da experiência do “medo”, do “terror” e da “punição” do acontecimento originário da fundação. Assim, na origem da lei está a violência, cuja função é proporcionar a legitimação de seu exercício pelo aparato estatal como única forma de preservar da ruína a vida política. (shrink)
The purpose of this work consists of analyzing the place that the big’s and people’s conflict, circumscribed by the theory of humors, occupies in Machiavelli’s political thought and to investigate its relationship with the political freedom. The central hypothesis is that the freedom can only be reached by a balance point among the forces in conflict. For that, it is necessary that the conflict, not being annulled, be rationally regulated and normalized by the republican institutions, changing from negative force into (...) force capable to converge in the State the commonwealth, the social order and the freedom of the whole political body. The republican law, born of the permanent confrontation of the antagonistic desires, subverts the negative character of the humors of big and people and it channels the force for the political life, demanding active citizenship of their members, it means, the participation of both humors in the public space as political agents for the maintenance of the freedom. To make it clear, we tried to demonstrate the characteristics of the conflict of the humors, in agreement with those which the desire of the big gets confused with a desire of power, while the desire of the people is associated to freedom. For Machiavelli, the true political freedom is only possible when the antagonistic humors can relieve their desires through the participation in the public space of debates and collective decisions, what can only happen in a republican regime. (shrink)
In this paper two Descartes' letters on Machiavelli are examined Firstly, following the philosopher's own suggestions in the letters, Descartes' and Machiavelli's thoughts are contrasted, from which a distinction between Morals and Politics arises. Next, the Cartesian Morals is explained in order to point out the roots of this distinction.Neste artigo, duas cartas de Descartes sobre Maquiavel são analisadas. Primeiro, é apresentado, com base no que o próprio filósofo sugere nas cartas, um contraste entre os dois pensadores, do qual (...) emerge uma distinção entre moral e política em Descartes. Uma leitura da moral cartesiana é feita, em seguida, a fim de localizar as raízes desta distinção. (shrink)
We are presently confronted with an impressive growth of the religious phenomenon. This can be observed not only related to both the outbreak of new religions and the increasing attendance to worship services, but also for the presence of the religious language in the political discourse. We can see nowadays a political use of religion and a religious use of politics. When we approach the religions in a large scale perspective is possible to verify that in all of them both (...) aspects live together, and they are contradictory and excludent only in appearance. This evidence brings some particular questions: there would be more political and bellicose religions than others? Or maybe the contentious nature of religions rises when they become ideologies, in the same way ideologies impose themselves politically when they act like religion? We will let ourselves be guided by this hypothesis in order to explore the ambiguous relation between politics and religion. It was precisely after the death of the ideologies that religions of any creed reappeared strongly in the scenario. We will take as references to this theoretical task two thinkers in particular: Marsilius of Padua and Machiavelli. They both will guide us to think respectively the religious use of politics and the political use of religion. -/- Estamos confrontados na atualidade com um vertiginoso crescimento do fenômeno religioso. Isso pode ser observado não apenas pelo surgimento de novas religiões e o aumento da frequência aos cultos, mas também pela presença da linguagem religiosa no discurso político de tal modo que podemos falar num uso político da religião e um uso religioso da política. Quando abordamos as religiões na longa duração, percebemos que em todas elas coabitam estes dois aspectos, contraditórios e excludentes apenas na aparência. Esta constatação leva ao questionamento: existiriam religiões mais políticas, ou mais conquistadoras, do que outras? Ou então, talvez, a natureza belicosa das religiões emergiria a partir do momento em que elas se erigem em ideologias, da mesma forma como as ideologias se impõem politicamente quando agem à maneira de religiões? Neste trabalho nos orientaremos por esta hipótese para explorar a relação ambígua entre política e religião, pois foi precisamente após a morte das ideologias que as religiões, independente do credo, retornaram com toda a força. Para tanto, tomaremos como referência teórica dois pensadores, Marsílio de Pádua e Nicolau Maquiavel, para pensar, respectivamente, o uso religioso da política e o uso político da religião. (shrink)
Partimos do estudo na noção de homem presente no pensamento de Maquiavel para estabelecer a idéia de Estado e sua relação com a ética. Existe, quanto a esta questão, uma vasta polêmica na tradição interpretativa e que podemos reduzir a duas perspectivas fundamentais. Primeira: Maquiavel compreende a natureza humana como corrompida de forma definitiva, o que transforma o Estado em instrumento puramente coator da malevolência humana. Nesta ótica, não há espaço para pensar em finalidades éticas do Estado. Segunda: (...) mesmo partindo da idéia de que há no homem uma inclinação à maldade, não considera isso algo irreversível. Destaca a importância da educação como instrumento de formação humana e de cultivo de valores morais. O trabalho mostra que o Estado maquiaveliano se fundamenta na natureza humana e tem por objetivo possibilitar o agir ético do homem. (shrink)
Maquiavel é geralmente considerado um precursor, senão mesmo o criador, da ciência política. Tal interpretação vê na obra do Florentino uma sistematização da racionalidade intrínseca à ação humana. Com tonalidades distintas, podemos vê-la em autores tão diferentes como Hegel, Meinecke ou Leo Strauss, que atribuem a Maquiavel a intuição do estado como princípio subjacente à autonomia do político e ao realismo. Estará, no entanto, esse princípio realmente presente na obra de Maquiavel? O presente texto questiona semelhante hipótese, (...) sustentando, ao invés, que o Florentino pertence a um universo de pensamento onde o moderno conceito de estado se encontra ausente. Pelo contrário, a mistura de razão e desrazão, que é inerente à ação política, mas que o postulado fundador da ciência política dos modernos – o mito do estado, como lhe chama Cassirer – virá ocultar, ainda se encontra a descoberto. (shrink)
A tradição interpretativa de Maquiavel reconhece a centralidade do povo como ator político. No entanto, sobre a função que desempenha existe um amplo espectro de interpretações. Em um extremo estão aquelas que o concebem como ente passivo, sem iniciativa política autônoma. No outro, as que lhe conferem um papel ativo no governo da cidade. Muito embora o próprio Maquiavel fale do povo como animado por um “desejo negativo”, disso não resulta uma passividade popular. Neste trabalho mostraremos que o (...) povo é ator político ativo autônomo que atua na cena pública de dois modos principais. Uma forma extra-institucional exercida pelos tumultos por meio dos quais o povo luta por leis. E uma forma intra-institucional exercida por meio de estruturas legais e institucionais com os quais o povo age com as leis. (shrink)
Trata-se, neste trabalho, de refletir acerca da recuperação do republicanismo de Nicolau Maquiavel para o debate democrático contemporâneo. Com esse intento, entre as muitas atualizações possíveis do pensamento do secretário florentino para os dias atuais, destaco duas matrizes conceituais, justamente aquelas mais concernidas com as noções de liberdade e ação política popular. Seguindo as sugestões de Helton Adverse, procuro então aprofundar e esclarecer a sua proposta de uma matriz “institucional” e uma matriz “conflitiva” quando da interpretação e recuperação das (...) ideias de Maquiavel. (shrink)
exam of the issue of conflict since the “History of Florence” provides us with elements capable to show the Machiavellian reflection does not evolve according to such a simple and linear way as it is shown in the “Discourses”. In fact, investigation will reveal that the opposition between the two types of conflict – positive conflict and negative conflict –, described in the “Discourses”, is progressively defined, from the analysis of Florentian history, as being just one type – the tragic (...) and violent type –, based on contrapositions that cannot be solved in terms of a classical virtú, characteristic of the first period of Roman history. Such transformations arise a set of questions to which, in some way, the present paper intends to offer some answers: Would Machiavelli have renounced to the idea of conflict as foundation of republican liberty and surrended himself to the utopia of a homogeneous and stable order? Which element should be to blame due to the fact that disagreements did not produce, in Florence, the same effects which were seen in Rome? Would all disagreements be natural and, for that reason, inevitable, or could there be “artificial” divisions and, by that reason,avoidable ones? -/- O estudo da questão do conflito a partir da “História de Florença” nos fornece elementos capazes de mostrar que a reflexão maquiaveliana não se desenvolve de modo tão simples e linear quanto parece nos “Discursos”. Com efeito, revelará que a oposição entre dois tipos de conflito – positivo e negativo – descrita nos “Discursos” se define progressivamente, a partir da análise da história florentina, como de um só tipo – trágico e violento – baseado sobre contraposições que não são possíveis de serem resolvidas em termos de uma virtù clássica, característica do primeiro período da história de Roma. Esta transformação levanta um conjunto de interrogações para as quais, de algum modo, o presente estudo pretende oferecer respostas: teria Maquiavel renunciado à ideia de conflito como fundamento da liberdade republicana e se entregado à utopia de uma ordem homogênea e estável? A que se deve atribuir o fato de as discórdias não haverem produzido em Florença os mesmos efeitos que em Roma? Seriam todas as discórdias naturais e, portanto, inevitáveis, ou poderia haver divisões “artificiais” e, portanto, evitáveis? (shrink)
O artigo tem por objetivo aprofundar uma abordagem da noção de soberania, segundo análise de obras de Maquiavel estabelecida por Antonio Negri. O autor defende que a soberania para Maquiavel corresponde à sobredeterminação da ação do governante -seja no principado, seja na república- em face das limitações e oposições impostas pelos adversários e pela própria fortuna. Buscamos, assim, entender as características dessa acepção de soberania uma vez que o conceito é definido com exatidão por Jean Bodin, quase meio (...) século após a publicação dos textos maquiavelismos. Para observar essa abordagem, digamos, heterodoxa, da soberania será preciso nos concentraremos na sua tese da relação entre ontologia política e movimento. Para Negri, o movimento é o princípio definidor da política e na obra de Maquiavel se encontra uma concepção de ontologia política produzida e pensada da própria ação do governante no tempo e da qual o movimento é constitutivo e indiscernível. Observaremos como se desenvolve a análise do conflito no caso de cidades como Roma e Florença. Como conclusão pretendemos observar que limites a interpretação das Istorie Fiorentine apresenta à tese negriana da soberania democrática em Maquiavel. (shrink)
O objetivo do presente texto é retomar a discussão sobre a presença do pensamento de Maquiavel nas obras de Espinosa, observando a figura do governante que se defronta com a Fortuna. Começamos nossa leitura mostrando como no realismo maquiaveliano acerca do poder, especialmente em O Príncipe, o governante assume a condição de alguém que se põe na situação de embate. Já no Tratado Teológico-Político a relação do governante com a Fortuna será daquele que deve decifrar os desígnios da potência (...) infinita de Deus. Ao final, faremos uma leitura de trechos das obras políticas destes dois filósofos para mostrar que, em Maquiavel, a relação que se estabelece entre o homem de ação e a Fortuna é de enfrentamento e, no caso de Espinosa, ela se compreende no registro do conhecimento. (shrink)
O “paradoxo da liberdade” consiste em esta só poder ser atingida através da obediência, a qual é vista frequentemente como o contrário da liberdade. Neste artigo, demonstrar-se-á que o paradoxo começa por nascer em Maquiavel, o qual, porém, deixa-o em aberto ao colocar a liberdade tão-só dentro de um contexto de governação. Spinoza, contudo, dará um passo em frente na sua abordagem à liberdade política. Ele aborda esta problemática diretamente nos seus dois tratados políticos e ambos expressam o mesmo (...) entendimento da liberdade, embora através de diferentes instâncias terminológicas. A solução spinozana combina um conjunto de critérios variados para a determinação da liberdade política, tanto da perspectiva do indivíduo como da perspectiva do Estado. Todavia, a sua combinação não é simples cumulação, mas sim uma complexa escala permitindo medir a liberdade em graus. Dessa maneira, Spinoza consegue fazer com que diferentes tipos de liberdade se compatibilizem com diferentes tipos de obediência. (shrink)
Este artigo pretende abordar a obra de Nicolau Maquiavel principalmente a partir da leitura feita por Maurice Merleau-Ponty. Para isto, apresentaremos, em um primeiro momento, alguns traços gerais da filosofia política merleau-pontiana com o intuito de rastrear a presença de Maquiavel no espectro de sua obra. Tratar-se-á, também, de indicar as balizas que guiam MerleauPonty na leitura de um texto filosófico. Quanto à discussão da filosofia maquiaveliana, procuraremos, em seguida, destacar os pontos que fizeram do secretário florentino o (...) primeiro pensador político moderno, momento em que teremos a oportunidade de explicitar a interpretação de Merleau-Ponty. Para concluir, serão colocados em relevo os aspectos que, segundo a expressão de Claude Lefort, fazem com que a política em Maquiavel seja compreendida como “grande política”. (shrink)
Este artigo tem por objetivo destacar o papel da religião na perspectiva política de Maquiavel, a forma como a religião atende os interesses da política, bem como as nuanças constatadas na relação entre política e religião a partir dos interesses específicos de cada lado, esclarecendo assim a estreita relação histórica entre esses dois pilares essenciais à sociedade republicana. Veremos como se dá tal relação, tendo como pano de fundo a prática religiosa na política em diferentes situações, a partir d’O (...) Príncipe e dos Discorsi. (shrink)
O presente artigo pretende demonstrar como a obra de Maquiavel elenca aspectos pertinentes sobre a relação entre religião e Estado, e como estes podem ser analisados através do ponto de vista da teoria política moderna. Suas contribuições relacionadas ao estudo da função política da religião, entendida como item essencial na manutenção, reconhecimento e solidez do Estado, levantam indagações indispensáveis para pensar a influência de determinados preceitos confessionais, relacionados ao poder eclesiástico, na formulação de uma moral política voltada para a (...) obediência dos ditames de natureza religiosa, e que auxiliam no desenvolvimento de uma vírtu coletiva, elemento, segundo o autor, indispensável para o Estado. O artigo ainda procura explorar questões relacionadas ao método empregado por Maquiavel, e a sua busca pela “verdade efetiva das coisas”. Através desta preocupação, o autor elucida as questões religiosas pela capacidade que as mesmas possuem em influenciar a vida coletiva, influência que abrange as decisões dos cidadãos no que concerne aos temas políticos, garantindo a disciplina e, consequentemente, o fortalecimento do Estado. Assim, o autor de Florença reconhece a incumbência da doutrina religiosa e sua eficiência ao motivar o vivere civile. Palavras-chave: Estado. Religião. Maquiavel. Política. (shrink)
O autor apresenta aborda, primeiramente, a relação entre poder e razão no pensamento político de Maquiavel. Num segundo momento, apresenta, no pensamento de Hobbes, a trajetória que se estende da razão impotente do estado de natureza até à razão poderosa do Estado, dispensador de segurança. PALAVRAS-CHAVE – Maquiavel. Hobbes. Poder. Razão. ABSTRACT The author analyses in a first moment the relationship between power and reason in the political thought of Machiavelli. In a second moment, he exposes, according to (...) Hobbes’s political philosophy, the path to be gone through from the powerless reason of the state of nature towards the powerful reason of the State, which grants security. KEY WORDS – Machiavelli. Hobbes. Power. Reason. (shrink)
Este artigo propõe uma análise de alguns escritos de Maquiavel, à luz de um relatório manuscrito dedicado aos canibais preservado em seus arquivos familiares e dos relatos de Américo Vespúcio sobre os costumes dos Tupinambá. A hipótese desenvolvida é que essa literatura etnográfica constitui o filtro usado por Maquiavel para interpretar os conflitos sociais na Florença do seu tempo.
No presente trabalho tentaremos apresentar, em um primeiro momento, os aspectos gerais da leitura que Althusser fez da obra de Maquiavel, com o fito de compreender de que modo nosso autor entende o momento político da fundação do Estado. Em um segundo momento, objetivamos contrapor essa posição com outros dois modos de entender a instituição ou fundação do político, embora também a partir de Maquiavel, considerando as propostas de Hanna Arendt e de Maurice Merleau-Ponty. Por fim, esforçar-nos-emos por (...) extrair algumas conclusões a respeito da produtividade e dos limites que cada um desses modelos hermenêuticos oferecem-nos para pensar o fenômeno da instituição política. (shrink)
Este artigo discute o significado e desenvolvimento do conceito de religião no cenário histórico e teórico do início da filosofia moderna. Considerando especialmente as contribuições dos mais importantes filósofos do Renascimento, dentre os quais Nicolau de Cusa, Marsílio Ficino, Maquiavel, Cardano e Bruno, discute as bases metafísicas e antropológicas da religião, bem como sua função política no alvorecer do pensamento filosófico moderno.
A relação entre política e aparência desenvolvida por Maquiavel no Príncipe tem sido vista como uma chave de leitura fundamental da obra do pensador florentino. Maquiavel teria mostrado que é condição da política desdobrar-se na aparência, ou seja, na dimensão simbólica do imaginário coletivo. Esta mesma relação também é colocada de modo emblemático pelo filósofo napolitano Giambattista Vico, autor raramente citado quanto à recepção de Maquiavel, mas que explora ou retoma temas afins. A questão é saber até (...) que ponto Vico segue pela via aberta por Maquiavel ou dela se afasta. Portanto, é o percurso e a direção desta retomada que gostaria de indicar neste trabalho, tendo em vista que, tanto Vico quanto Maquiavel, dialogam com a antiga tradição filosófica que, de Platão a Plutarco, já discutia o assunto. (shrink)
The fully understanding of the Machiavellian concept of the State depends on the determination of the idea of political equality. Political equality must be conceived, in its turn, as domination equality and absence of privilege/precedence; in other words, absence of subordination. Taking into account a definition such as that, the Machiavellian model of the State could only be the Republic. So, this paper argues G. Pancera`s view, proposed in his book “Maquiavel entre Repúblicas”, that such model of the State (...) was more explicitly formulated in Machiavelli`s Discursus. This interpretation will be questioned, pointing out the existence of textual elements in the Discursus which allow us to think that a Principate or a Monarchy could also be among Machiavelli’s purpose to the reform of the Florence State examined in the Discursus. -/- Para captar a concepção maquiaveliana de Estado é necessário determinar a ideia de igualdade política. Esta deve ser entendida como igualdade de comando e ausência de privilégio/precedência, ou seja, ausência de subordinação. Considerando esta definição, o modelo de Estado maquiaveliano só pode ser a república. O artigo discute a partir da obra de G. Pancera “Maquiavel entre repúblicas” a questão, levantada por Pancera, de que seria no Discursus de Maquiavel que semelhante modelo de Estado estaria formulado de modo mais explícito. Problematizaremos esta interpretação apontando para a existência de elementos textuais da obra citada que autorizam pensar que igualmente um principado ou monarquia poderiam estar na intenção de Maquiavel na reforma do Estado de Florença examinada no Discursus. (shrink)