Abstract
O presente estudo pretende salientar o trânsito das grandes formulações da concepção da temporalidade na tradição hindu: do tempo (kāla) à sua compreensão como instantâneo (kṣaṇa). Num ponto preliminar, salientam-se as condições linguísticas do pensar indo-europeu e a "gramática" sanscrítica a propósito do tempo. Sublinham-se de seguida os enquadramentos rituais e míticos, tanto ligados com a ciclicidade (saṃsāra), como com o imutável e eterno (ānantya). Depois percorrem-se, de forma sintética, os vários "sistemas" filosóficos salientando respectivamente: a concepção metafísica (no Vedānta e Mīmānsā), a recorrência e irrealidade já num plano gnosiológico (no Sāṃkhya e no Yoga), e a formulação psicológica (tanto no Vaiśeṣika, como no Nyāya, além disso presente no Jainismo). Enfim, na última parte, faz-se menção aos principais traços característicos da doutrina budista da instantaneidade (muito característica sobretudo das escolas "subitistas"). Valoriza-se conclusivamente esta instância de um "agora" também como lição da espiritualidade hindu em geral.