Abstract
Resumo: Nossa intenção, neste artigo, é apresentar uma leitura da narrativa hesiódica da criação de Pandora, a primeira mulher, analisando sob quais aspectos aparecem, na poesia arcaica grega, os traços míticos relacionados ao feminino que Simone de Beauvoir mapeia na segunda e na terceira parte do primeiro volume de O Segundo Sexo, intituladas História e Os Mitos. O que de próprio à condição feminina ocidental é atribuído à mulher desde Hesíodo e como? A leitura que faremos segue a estratégia do “releasing” (libertação) de autoras feministas, como Vered Kenaan, em Pandora´s Sense. Trata-se de libertar a imagem da primeira mulher da sua conotação negativa e das consequências opressoras que dela decorrem e mostrar como a narrativa grega sobre a criação de Pandora apresenta traços de ambiguidade e indeterminação próprias à condição humana em geral, conforme Beauvoir apresenta em Por uma moral da ambiguidade, traços que a tradição patriarcal revestiu de fantasias e atribuiu exclusivamente à mulher ou responsabilizou-a por eles. Vale ressaltar que não se trata de descobrir, sob o olhar masculino sobre a mulher, uma verdade mais fundamental, uma natureza do feminino. Mas de, compreendendo a construção da condição feminina de subjugo, encontrar na imagem da mulher,potências que nos permitirão transformá-la.