Abstract
É largamente reconhecido no interior dos estudos das Humanidades, em especial no campo da Filosofia, a lacuna deixada acerca da compreensão do papel das mulheres e da sua produção intelectual no pensamento filosófico. Tal preocupação deve-se, em grande parte, à produção divulgada por outras áreas de estudos, como as de gênero e da teoria feminista. No caso do campo filosófico, trata-se de reconhecer que a história da filosofia nunca foi feita só por homens, ainda mais quando se tratou da defesa da liberdade das mulheres e da sua luta por inserção e reconhecimento intelectuais. Neste sentido, este trabalho visa analisar comparativamente três discursos em defesa da liberdade das mulheres, escritos por duas jovens autoras e um autor, em momentos distintos. Em primeiro lugar, temos o discurso de um jovem professor de retórica, Lorenzo Valla, contido no seu diálogo Do Prazer, de 1431; em segundo, temos o diálogo Il Merito delle Donne, da escritora veneziana Moderata Fonte, publicado postumamente em 1600; e, por fim, o texto da Tirannia Paterna, de outra escritora veneziana, a filósofa Arcangela Tarabotti, publicado postumamente em 1654. Em todos os três casos, tratam-se de discursos endereçados aos homens, em repúdio por seus crimes cometidos contra a liberdade das mulheres e o livre-arbítrio em geral. Desse modo, tomando como eixo de análise a semelhança temática entre tais textos, será de nosso interesse observar a relação entre o ethos dos falantes com o self dos autores nessas três orações distintas, levando em consideração ainda o gênero de discurso, a audiência, os efeitos retóricos e o contexto em que as obras se inscreveram.