Abstract
ResumoEste ensaio examina a sobrevida textual de uma cabeça — a de Antônio Vicente Mendes Maciel, o Antônio Conselheiro (1830-1897), a partir de sua morte na Guerra de Canudos (1896-1897). Traçam-se as figurações do crânio de Conselheiro na imprensa brasileira do fim do século XIX e nos trabalhos do médico legista Raimundo Nina Rodrigues e do engenheiro e escritor Euclides da Cunha. Embora ambos esperassem que o crânio de Conselheiro apresentasse evidências físicas de degeneração racial, as observações craniométricas de Nina Rodrigues revelaram um crânio normal. Argumenta-se que esse fracasso da aproximação materialista à psique humana deu proeminência a explicações sociológicas para o fenômeno de Canudos, além de levantar questões sobre visibilidade, raça e racismo científico na virada do século XX e no mundo contemporâneo.Palavras-chave: Raça. Psiquiatria. Guerra de Canudos. Antropologia criminal. AbstractThis essay examines the textual afterlife of a head—that of Antônio Vicente Mendes Maciel (Antônio Conselheiro [1830-1897]), after his death in the Canudos War (1896-1897). It traces figurations of Conselheiro’s skull in the late nineteenth-century Brazilian press and in the works of Raimundo Nina Rodrigues and Euclides da Cunha. Although these two social scientists expected Conselheiro’s skull to display physical evidence of racial degeneration, Nina Rodrigues’s craniometric measurements and observations revealed a perfectly normal skull. It is argued that this failure of a materialist approach to the human psyche allowed a stronger reliance on sociological explanations for the Canudos phenomenon that opens up questions on scientific racism and the visibility of race in the turn of the twentieth century and in contemporary times.Keywords: Race. Psychiatry. Canudos War. Criminal Anthropology.