Abstract
Uma das técnicas, pensadas por Nietzsche, para ativar a consciência moral é a técnica da memória, que o filósofo denomina mnemotécnica. Ora, submeter a memória a procedimentos com capacidade de predição e controle, equivale a despi-la daquilo que é sua característica orgânica e vital que lhe confere a capacidade de, para além de todos os enquadramentos técnicos superficiais, a todo o momento superar-se mediante o alcance de pontos mais culminantes de potência. As considerações de Nietzsche em torno do problema da má consciência, assim como de sua expressão em forma de ódio e vingança é marca do ressentimento, estão ligadas aos obstáculos que se interpõem frente à ação. Pela ação, toda a carga instintiva é manifesta em forma de obra de arte pelo criador; ao contrário, se interiorizada, a carga se torna veneno degenerativo. Nietzsche atribui estes obstáculos à ação e à memória como um dos fatores preponderantes. Na Segunda Dissertação de Para a genealogia da moral, Nietzsche apresenta a má consciência como um fatalismo sem luta, o que repercute em resignação e doença. Pela má consciência às propensões naturais do agir é atribuído um olhar ruim, hostil à vida e difamador do mundo. Sua origem se liga a um movimento de interiorização dos instintos, o que resulta em luta contra si mesmo e degeneração fisiológica. A presente investigação considera as diversas técnicas que foram sendo desenvolvidas a fim de que não só as informações mais diversas não caíssem no esquecimento, mas a maneira como estas são lembradas no sentido de produzirem, ao invés de expansão da vida, encolhimento, resignação e degeneração. Estaria Nietzsche defendendo a dissolução da memória como um todo, ou redimensionando a maneira pela qual se tem vivido dela?