Abstract
O ensaio procura investigar a ideia de educação moral defendida por Jean Piaget em sua conferência intitulada “Os procedimentos de educação moral”, proferida em Paris, no ano de 1930. Concentra-se em reconstruir o núcleo central apresentado pelo autor, ou seja, a tensão entre a dupla moralidade e a ambiguidade entre heteronomia e autonomia que constitui a moralidade infantil e que se alicerça em sentimentos de respeito opostos, de unilateralidade e de reciprocidade. Ocupa-se também em confrontar os procedimentos típicos da educação tradicional com os procedimentos próprios da educação progressiva que impulsionam a posição ativa do educando para a construção dos aspectos da internalização da lei e da possibilidade das relações de cooperação e respeito pelo outro nos grupos de convivência, especialmente no período da infância. Destaca a necessária presença do adulto, como aquele que exerce o papel de mediação na relação entre ele, a criança e o mundo, principalmente do professor na educação infantil pela compreensão do domínio psicológico da infância, para pensarmos por que a criança age, como ela age e de que forma age. Por fim, conclui procurando mostrar a atualidade desta reflexão do jovem Piaget para os nossos dias, mesmo se passando quase um século, revelando a importância da releitura dos clássicos para a reflexão, compreensão e intervenção em problemáticas educacionais atuais. Sua crítica ao autoritarismo inerente à determinada concepção de educação moral serve ainda como resistência ao conservadorismo autoritário atual e, ao mesmo tempo, para reestabelecer os laços cooperativos e solidários proporcionados pela ampla tradição da educação moral autônoma, oferecendo as condições intelectuais e psicológicas necessárias para o desenvolvimento saudável e o ingresso autônomo na sociedade adulta.