Abstract
Este estudo pretende reconstruir alguns traços gerais da concepção de feminismo decolonial de Françoise Vergès na obra Feminismo decolonial e na obra Uma teoria feminista da violência buscando enfatizar de que maneira a teoria discursiva de Jurgen Habermas em sua obra Facticidade e validade enfrenta a questão das demandas sociais por igualdade entre homens e mulheres ao tratar da dialética entre igualdade de direito e igualdade fato no mercado de trabalho. Vergès sustenta que é necessário um tipo de reconstrução da história do feminismo em que o protagonismo das mulheres racializadas seja levado em consideração e que se preste atenção à maneira como o feminismo decolonial e o que ela chama de feminismo civilizatório conceituam a emancipação da mulher. Embora seja importante reconhecer que a inclusão das mulheres racializadas na arena pública ou na esfera pública possa ser ainda insuficiente como uma estratégia para garantir a igualdade das mulheres, a invisibilização das mulheres racializadas pode até mesmo distorcer o ponto do debate da emancipação feminina e Vergès analisa alguns casos para ilustrar seu ponto de vista, como o que se costuma chamar de a polêmica do biquíni na França. Além disso, o próprio conceito de violência numa perspectiva diferenciada do termo, que inclui não apenas a agressão física, mas também a distribuição desigual de tarefas (atividades relacionadas com a manutenção do capital e atividades executivas de empresas) entre mulheres racializadas e mulheres brancas, a distribuição entre as pessoas que podem ser mortas de maneira arbitrária e as que não podem, todos estes aspectos podem ser considerados como um avanço importante na discussão das questões relacionadas com a igualdade na sociedade contemporânea.