Abstract
A ambiguidade do humor torna-o capaz de desvendar a verdade para lá da peta, do ópio, do fingimento, da falsidade – cada um destes sinónimos de mentira está presente, com subtis gradações, nos periódicos de José Daniel Rodrigues da Costa. O próprio conceito de mentira suscita reflexão e é questionado na sua relação com a verdade: “Com toda a certeza, se não for mentira.” O exagero das petas com que “tempera” as verdades chama a atenção dos leitores para a “verdade encoberta” sob as convenções das práticas sociais, numa dialéctica do ser com o dever ser, do moral com o amoral, na fronteira entre o lícito e o ilícito nas últimas décadas do Estado absolutista e no dealbar do liberalismo. O estudo do humor, dos seus limites e do seu lugar nos periódicos na viragem do século XVIII para o XIX é uma das muitas formas da história das ideias.