Abstract
No intuito de dilucidar o "simbólico", "linguagem" e "ética" revelam-se instâncias incontornáveis na articulação entre filosofia e psicanálise, pelo que o autor do presente artigo recorre essencialmente aos escritos de Jacques Lacan em ordem à prossecução desse fim. Assumindo a obra de Lacan na sua condição de controversa, inovadora e dissidente, o artigo analisa até que ponto a proclamação lacaniana de um "retorno a Freud" equacionou de um modo novo o acesso ao simbólico e à questão da linguagem, nomeadamente graças a uma análise estrutural em que o inconsciente -"estruturado como uma linguagem" -, pressupõe uma analítica clínica em novos moldes, pela relevância da "retórica do inconsciente " (por metonímias e metáforas), cujo "jogo de verdade" se processa não só por um manifesto não-cartesianismo, mas ao modo da "ek-sistência " heideggeriana. Mais ainda, o processo, longe de pressupor um sujeito único (Hegel), mostra que a situação do desejo é insuperável - há apenas verdade parcial. A analítica da condição humana acaba por postular, na senda de Aristóteles e Kant, mais do que uma relação entre "ética e psicanálise", uma verdadeira "ética da psicanálise", de cariz quasikantiano. O artigo mostra ainda, finalmente, até que ponto numa conjugação entre ética e estética a consideração do bem acaba por carecer de um refluxo no discurso do belo. /// With the intention of elucidating the "symbolic" in the articulation between philosophy and psychoanalysis, "language" and "ethics" constitute necessarily complicit instances. To this end, the present article resorts to the writings of Jacques Lacan, writings known to be controversial, innovative, and dissident. The article seeks to analyze the extent to which the call to "return to Freud" provides a new way of approaching the symbolic and the question of language. This is due to the employment of structural analysis and the subsequent finding that the unconscious is "structured as a language." This presupposes a clinical analysis that brings to light the "rhetoric of the unconscious " (metonymy and metaphor), of which its "game of truth " proceeds in a manner that is not only non-Cartesian but also reflects the Heideggerian idea of ek-sistentia. In addition, not presupposing an unique subject (Hegel), the theory demonstrates that the problematic of desire cannot be overcome and that truth is only partial. Following Aristotle and Kant, the article ojfers an analysis of how the human condition postulates an "ethics of psychoanalysis.".