Abstract

A filosofia prática de Kant, ou seja, o nuclear da sua ética, juntamente com o "primado da razão prática sobre a especulativa" e a "religião nos limites da simples razão", com seu acento no "mal radical", têm inegáveis afinidades com a - e em certos casos influxo da - tradição cristã. O próprio Kant terá em alguns momentos reconhecido isso mesmo. Segundo o autor do presente texto, subsistem, contudo, inegáveis divergências. O artigo, escrito a partir de uma declarada 'simpatia metódica, pretende precisar no possível o alcance de umas e de outras, fazendo sobre o tema um balanço positivo. O autor propõe ainda uma hipótese de leitura do Opus Postumum, reconhecendo aqui uma tentativa por parte de Kant no sentido de purificar o seu "teísmo moral" numa direcção que tão pouco é alheia a importantes intuições cristãs. /// Aim of the article is to show that the practical philosophy of Kant, or, in other terms, the core of his ethics, as is the case with the "primacy of the practical reason over the speculative one" and the "religion within the limits of pure reason", with its accent set upon the idea of "radical evil", have undeniable affinities with -and in certain cases influxes from - the Christian tradition. Kant himself seems to have recognized that much at certain moments. For the author of the article, however, there are a few divergences to be reckoned with. In fact, the article, which is clearly written from the standpoint of a declared methodic sympathy, does whatever is possible in order to determine the reach of the ones and of the others, but in the end concludes that the result is a positive one. The author also suggests a reading hypothesis for the Opus Postumum, acknowledging here an attempt on the part of Kant directed towards a purification of his "moral theism" in a direction that as such is no less close to some very important Christian intuitions.